Carmona é o cliente mais recente de uma reputada multinacional farmacêutica, especialista no desenvolvimento de um substituto químico para o Poder. Chamam-lhe a «metadona do poder» e a sua aplicação é essencialmente dirigida a indivíduos viciados em Poder que, por uma ou outra razão, se viram privados de o exercer.
A «metadona do poder» tem efeitos surpreendentes desde a sua primeira aplicação, fazendo com que os pacientes percam gradualmente uma série de comportamentos desvairados causados pelo exercício contínuo do poder.
Sujeito à medicação há cerca de 48 horas, Carmona já apresentava hoje alguns sintomas de normalidade, tendo decidido desistir da sua insana recandidatura à Câmara de Lisboa.
O tratamento com «metadona do poder» tem a duração, nos casos mais simples, de cerca de 10 meses, podendo no entanto haver reincidências. Portas é um caso típico de reincidência: desde Março que se recusa a tomar os comprimidos, apresentando sérios sintomas de regressão.
Já Santana tem sido um paciente exemplar, considerado um case-study mundial pela empresa farmacêutica que criou o produto, por ser o único caso onde se desenvolveu uma incompreensível dependência do fármaco. «Era suposto ter largado a medicação há mais de um ano, mas ele insiste em continuar a tomá-la e fica alterado quando se fala em desmame» afirma um responsável técnico da empresa.
O mercado português tem-se mostrado num dos mais rentáveis na comercialização da «metadona do poder», ao ponto da empresa avaliar tornar Portugal num mercado-piloto para outras variantes do seu produto: a «metadona autárquica» será brevemente testada no nosso mercado, mas onde a empresa deposita mais expectativas (pelo elevado potencial do mercado) é no lançamento da «metadona produtiva» - um fármaco especialmente concebido para funcionários públicos e cujo efeito desejado consiste em fazê-los trabalhar como se fossem nórdicos.
A reforma da função pública, falhada em termos políticos, poderá vir a dar-se com sucesso em termos químicos. Aguardemos. Sem medos.
quinta-feira, maio 17, 2007
A Razão dos Agarradinhos ao Poder
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