No que toca a esquemas, os portugueses são imbatíveis. Não há povo no mundo que consiga produzir tanto esquema em tão poucos quilómetros quadrados. Se estão a pensar nos brasileiros, esqueçam: apesar de terem aprendido connosco a arte e de serem mais 140 milhões do que nós, não nos chegam aos calcanhares quando analisamos a quantidade de esquemas per capita.
Tudo o que acontece em Portugal faz parte de um esquema qualquer, iniciado por alguém, para lixar outrem. Quando olhamos à nossa volta, é impressionante a quantidade e variedade de esquemas que diariamente nos passam pela frente. Temos esquemas que chegam todos os dias às páginas do jornais, e quando isso acontece sabemos que se tratam de esquemas mal feitos, porque os esquemas bem feitos e bem montados são como os crimes perfeitos: ninguém os topa.
Estamos tão habituados a viver neste esquema que já não ligamos para a maior parte dos esquemas. É como se fizessem parte do esquema. São os chamados esquemas habituais. Acontecem tão naturalmente como o ar que respiramos e, não alinhar neles, é capaz de nos sufocar.
Temos também os velhos esquemas. Aqueles esquemas bafientos e instituídos que, quando denunciados pela comunicação social, acabam por se tornar esquemas manhosos e são substituídos por esquemas mais modernos.
A dimensão dos esquemas também é importante nesta telenovela mexicana: normalmente quem está envolvido em grandes esquemas e é apanhado, goza de uma espécie de glorificação bacoca e sai normalmente impune do esquema – o que leva a crer que há uma espécie de respeito e admiração velada e boçal por quem é um grande esquemático. Aqui, neste rectangulozinho, é prestigiante enganar muita gente. Ao contrário, o pequeno esquema (também designado por esquemazinho) é altamente penalizado. O lema parece ser «se roubares, rouba com estilo e em grande».
Temos finalmente uma classe de esquemas que parecem estar directamente relacionados com a necessidade de protagonismo mediático que os portugueses de classe média têm vindo a desenvolver na última década: são os esquemas marados (também designados por esquemas dos caraças). O objectivo destes esquemas é dar nas vistas, tentando assemelhar-se aos grandes esquemas, numa tentativa vã e desesperada de poderem ser considerados inteligentes, com o decorrente prestígio que daí advém. É claro que isto só denota a estupidez atávica de quem os cria – é tido e sabido que um esquema, para ser grande, tem que ser acima de tudo muito discreto. E os esquemas marados têm invariavelmente a discrição de um elefante numa loja de cristais...
Estão a ver o esquema?
terça-feira, novembro 07, 2006
A Razão dos Esquemas
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