Não vos causa estranheza a designação «testemunha presencial»? O que é que isto é suposto definir: um tipo que estava fisicamente presente num local onde se deu uma ocorrência, não? Ora isto significa que quem não estava fisicamente naquele local quando se deu a concorrência é uma «testemunha não presencial». Cheguei à conclusão que sou uma testemunha não presencial de milhares de atrocidades e isso deixa-me preocupado. É que esta condição de testemunha não-presencial coloca-me na eminência de qualquer dia ser intimado a comparecer num qualquer tribunal algures no mundo, para testemunhar não presencialmente um crime qualquer, o que convenhamos não dá muito jeito, principalmente se tiver que fazer várias escalas.
A outra designação dúbia é «testemunha ocular». Isto supostamente define alguém que é uma testemunha presencial e que ainda por cima viu tudo o que se passou em determinada ocorrência. Ser «testemunha presencial» não é o mesmo que ser «testemunha ocular»? Ou também há «testemunhas auriculares»? Curiosamente nunca ouvi ninguém falar nas testemunhas auriculares, aqueles tipos que estão no lugar da ocorrência mas que por qualquer motivo não olham para ela. Não olham, pronto. Não gostam de olhar para aquelas porcarias. Mas ouvem. Ouvem tudo. Não serão estes gajos testemunhas auriculares?
Isto leva-me a pensar que podem existir «testemunhas não presenciais auriculares»: tipos que estão longe da ocorrência mas que conseguem ouvi-la. Esses tipos são considerados legítimos? Mesmo que o pai seja incógnito? Não faço ideia.
Mas onde a coisa se baralha mesmo é com aqueles gajos que estão longe da ocorrência e no entanto estão a olhar para ela com um par de binóculos. São as «testemunhas binoculares». Estes nem são presenciais nem auriculares (porque estão longe demais para ouvir o que quer que seja). Poderão estes gajos ser levados a sério num tribunal? Espero bem que não. É que eu todas as noites sou testemunha binocular das excêntricas actividades nocturnas de uma vizinha jeitosa, e não me dá jeito nenhum ir parar a um tribunal.
quinta-feira, novembro 30, 2006
A Razão da Testemunha
quarta-feira, novembro 29, 2006
A Razão do Reality Show
Há uns tempos atrás o Zé Maria, aquela alma simples do Big Brother, tentou suicidar-se, depois de ter estoirado o dinheiro que ganhou no concurso em projectos falhados.
Marco, o neanderthal do pontapé maravilha do Big Brother, foi detido pela polícia no ano passado, acusado por um camionista de agressão selvática e persistente numa fila de trânsito.
A semana passada li que o Mário, o loiro burro do Big Brother, foi preso pela judiciária, acusado de liderar um gang responsável por assaltos à mão armada na zona do Porto.
A julgar pelos exemplos acima, os reality shows serão largamente responsáveis por toda uma geração de anormais desajustados e destrambelhados, com a mania das grandezas e do sucesso fácil. Não falo só dos anormais que por lá pululam, mas também dos anormais que diariamente enchem as audiências deste tipo de programas.
Parece-me óbvio que os reality shows dão cabo da vida pública dos seus participantes, que consequentemente passam a lidar muito mal com isso nas suas vidas privadas. Ora se assim é, porque não assumir as coisas frontalmente e criar programas que arrebentam com a vida dos gajos logo ali em directo, à vista de toda a gente, em vez dos abandonar à sua sorte no fim de cada programa? Seria infinitamente mais honesto do que acontece agora. E geraria muito mais audiência.
Foi a pensar nisto que elaborei algumas ideias passíveis de serem utilizadas pelo Piet Hein, free of charge, nos seus futuros lixos televisivos:
O Atol
Um grupo de labregos é colocado num atol de Mururoa. São formadas equipas de dois elementos e a cada indivíduo é dado um componente de uma bomba nuclear de potência desconhecida. Cada elemento da equipa é colocado num ponto do atol, bem distante do seu companheiro de equipa. O objectivo é encontrarem-se o mais rapidamente possível, juntando os componentes da bomba e accionando o dispositivo. Vence quem conseguir destruir o atol primeiro. Prémio de 100.000 euros para os primeiros, que será doado à TVI se os participantes não se apresentarem nos escritórios do Piet Hein duas horas depois de finalizada a prova.
Um grupo de quarentonas encalhadas é largado na selva ardente à mercê de uma tribo de somalis devidamente untadinhos e com a testosterona alterada quimicamente de modo a não pensarem noutra coisa que não seja a sodomia brutal e persistente.
Ao fim de três meses as quarentonas serão recolhidas e a vencedora será aquela que ostentar um caminhar mais esquisito.
Um reality show com anões, cavalos pentapérnicos, e mulheres desnudas, que tem características próximas do triatlo olímpico.
Os anões são inicialmente catapultados para dentro de campos de minas, que terão que atravessar até chegar aos cavalos pentapérnicos. Os que sobreviverem à queda e às minas terão que cavalgar 20 km num campo de urtigas e espinhos, agarrados à quinta perna do cavalo. Os que conseguirem transpôr a segunda fase da prova serão de novo catapultados para o campo de minas. As mulheres desnudas na realidade não existem, e são apenas um motivo para dar cabo dos anões. O anão que sobreviver estará automaticamente apurado para «O Atol».
O Cartoon
Destinado a toda essa malta com talento para o desenho que anda por aí. Doze cartoonistas são fechados numa sala blindada com um fundamentalista islâmico que, embora ninguém saiba porque não se vê, está atestadinho de explosivos na zona rectal. Os cartoonistas têm que desenhar temas religiosos alusivos ao Ramadão. Quem conseguir fazer explodir o árabe ganha umas próteses biónicas (último modelo) para os bracinhos.
Reality show que simula o interior de uma repartição pública. A cada um dos quinze participantes é facultado: uma máquina de escrever Remington de 1916, trinta resmas de papel pautado, cinco resmas de papel químico, uma caixa de lexotans. Vence quem conseguir levar mais tempo a deferir um processo. O premiado será catapultado para o campo de minas dos anões. Os restantes irão servir de figurantes em «O Atol».
terça-feira, novembro 28, 2006
A Razão da Convenção
Sabemos que um blog só é verdadeiramente um blog quando resiste à barreira dos quatro meses – duração convencionada, por não sei quem, para o fim da maioria dos blogs. É verdade. Sempre que se cria um blog, o mais certo é que a sua esperança de vida seja de quatro meses. Isto significa que a maioria das pessoas só tem quatro meses de coisas para dizer. Pena que isto não aconteça também na política.
Isto para dizer que a Razão entra hoje no seu sexto quarto mês de existência, cumprindo o seu segundo aniversário. Com muito menos para dizer do que há dois anos atrás, é certo. Mas ainda assim com muita barbaridade por escrever. Quanto mais não seja para contrariar a convenção dos quatro meses. Odeio convenções. Aborrecem-me.
Para assinalar o 2ºaniversário do blog, esta semana irá ser dedicada à republicação dos meus posts preferidos do ano que passou. Acabei de dar uma semana de férias a mim próprio. ;-)
segunda-feira, novembro 27, 2006
A Razão dos Bons Velhos Tempos
Se há conversinha que me aborrece solenemente é aquela que começa por três palavrinhas: «No meu tempo...» e assim por diante.
Chateia-me o paternalismo enternecedor e cínico de quem já viveu mais tempo do que eu e que por isso acha que sabe infinitamente mais do que nós. A ponto de se achar no direito de começar as suas frases por «no meu tempo...».
Para já há aqui um equívoco espacio-temporal e existencial: aparentemente estes mamíferos acham, ao proferir estas merdas, que estão noutro tempo que não o nosso. O que me parece deveras preocupante. Afinal que merda é essa do «tempo deles»? Este sentimento de posse face a algo tão etéreo e passageiro como o tempo só demonstra que, na minha humilde opinião, qualquer que seja, ou tenha sido, o tempo deles, foi mal empregue. Por uma simples razão: foi erradamente cristalizado, à semelhança dos seus cérebros, provavelmente.
Mas o que me chateia mais é a interpretação que estas alimárias fazem daquele que convencionaram ser «o seu tempo»: no seu tempo era tudo mais difícil, o que os torna nuns heroizinhos da merda noutro tempo que não o deles; no seu tempo os jovens eram mais cultos e interventivos na sociedade; os políticos eram mais idealistas e menos corruptos (que ingenuidade!!); os funcionários públicos eram mais trabalhadores; os professores eram mais severos e eficazes; os pais eram mais responsáveis; as crianças eram menos gordas; os impostos eram mais baixos; o clima era mais ameno; o buraco do ozono era menos esgaçado; o custo de vida era mais acessível; o poder de compra era mais elevado; e o raio que os parta!
Ouvimos o discurso vazio destes gajos e sentimo-nos uns injustiçados por ter de levar diariamente com o José Sócrates, e por não ter a sorte da Madonna vir a Portugal adoptar o Marques Mendes.
Pessoalmente isto aborrece-me. Principalmente porque «no meu tempo» o que eu esperava é que estes gajos que invocam a torto e a direito «o seu tempo» tivessem feito alguma coisa de útil para tornar «o nosso tempo» numa coisa aprazível e, preferencialmente, divertida. Que é exactamente aquilo que me proponho fazer até ao fim do «meu tempo».
domingo, novembro 26, 2006
sábado, novembro 25, 2006
A Razão Realmente Importante
quinta-feira, novembro 23, 2006
A Razão do Passeio dos Militares
Em 25 de Abril de 1974 os militares, insatisfeitos, tomaram o poder.
Hoje os militares, insatisfeitos, «passeiam organizadamente».
Estamos a ficar moles.
terça-feira, novembro 21, 2006
A Razão de Desenrascar
Os portugueses dividem-se em dois géneros básicos: os enrascados e os desenrascados. Os primeiros dependem dos segundos, e os segundos dependem dos primeiros. É um ciclo vicioso (e viciado) que tem a sua inspiração, provavelmente, em Karl Marx.
Os desenrascados têm como função, ao contrário do que o nome sugere, enrascar os enrascados. Quando o conseguem, podem então fazer jus à sua característica predominante e então desenrascá-los. É ridículo, é La Palisiano, mas é verdade. Maquiavel era capaz de se baralhar no meio deste processo todo: aquela sua velha questão (ou postulado) onde os meios justificam os fins, adquire um carácter meio esquizofrénico aqui em Portugal. É que aqui, para um desenrascado, os meios são mesmo os fins. Enrascar é uma garantia de que vai ser necessário, a qualquer momento, mais tarde ou mais cedo, desenrascar.
Desenrascar, aqui nesta nossa telenovela mexicana, significa resolver um problema que não existiria se não tivéssemos pensado em qualquer coisa que nos pudesse enrascar. Passo a explicar:
Alberto tem uma máquina de lavar roupa. A máquina de lavar roupa tem um painel electrónico. O painel electrónico da máquina de lavar roupa de Alberto diz que já é altura de verificar o nível de calcário da máquina. Alberto liga para um canalizador para o desenrascar (pensa ele). O canalizador chega, abre a máquina de lavar roupa do Alberto, e enrasca-o. Uma semana depois a máquina, que está programada para electronicamente pedir uma revisão ao fim de um ano, deixa de funcionar. Alberto volta a ligar para o canalizador que o enrascou e pede-lhe para o desenrascar. É assim a vida neste país à beira-mar enrascado.
O problema é que este comportamento se repete nas mínimas coisas: votamos, enrascados numa crise económica causada em grande parte pelo partido que ganha eleições, para nos desenrascarmos e ainda nos enrascamos mais.
Ser português é andar à rasca e à espera que alguém o desenrasque. Há aqui uma espécie de demissão de responsabilidade a favor de alguém que ainda é mais irresponsável que nós. Fantástico, não é?
E acabei agora mesmo de desenrascar o post de hoje. Amanhã vou-me enrascar para escrever o próximo. Mas já sabem: podem sempre contar comigo para vos desenrascar.
domingo, novembro 19, 2006
A Razão do Capacete
Há muitas coisas que podem provar que o ser humano não é inteligente. Mas a minha preferida foi a necessidade de inventar o capacete. Aparentemente, o que estava a acontecer é que estávamos envolvidos em muitas actividades que nos estavam a partir a cabeça. Optámos por não deixar de as fazer e, em vez disso, inventar uma coisa que nos permitisse manter o estilo de vida que estava a partir-nos a cabeça. O capacete. Mas nem mesmo isso funcionou, porque havia muita gente que não o usava e então foi necessário fazer uma lei que tornasse o uso do capacete obrigatório. O que é ainda mais estúpido é a ideia de se fazer uma lei que obrigue as pessoas a preservarem um cérebro cujo discernimento é tão pouco que nem sequer tenta impedir que se parta o crânio que o protege.
Jerry Seinfeld
sábado, novembro 18, 2006
sexta-feira, novembro 17, 2006
A Razão do Meteorologista
Se há profissão cuja credibilidade depende quase exclusivamente dos caprichos da natureza é a de meteorologista.
Sabemos bem que a natureza é imprevisível, facto que torna a profissão de meteorologista numa das mais ingratas do planeta, por duas grandes razões: se acertam na previsão ninguém lhes liga nenhuma porque é suposto acertarem – é para isso que lhes pagam; se falham, e normalmente falham, são imediatamente gozados com aquela condescendência típica de quem nunca acreditou que iriam acertar. Mas uma coisa é certa: nunca ninguém se aborrece muito com eles. Nunca se viu um meteorologista ser despedido por ter falhado uma previsão.
«O senhor previu uma tempestade tropical e afinal temos aqui um furacão de grau sete. Isto é uma verdadeira irresponsabilidade! Já na passada semana nevou quando a sua previsão era de céu pouco nublado com algumas abertas. É inadmissível. Está despedido!!»
Neste aspecto os meteorologistas apresentam muitas semelhanças com os políticos – há uma espécie de impunidade vigente face às barbaridades que dizem.
Uma coisa que me suscita curiosidade é a progressão de carreira de um meteorologista. Como é que eles sobem de escalão? Provavelmente até têm um daqueles cartõezinhos de handicap, como no golfe. Quem conseguir acertar mais vezes nas previsões vai reduzindo o seu handicap até chegar à presidência do Instituto Nacional de Meteorologia.
Por isso, o momento em que acertam na sua previsãozinha deve ser avassalador. É um ponto alto das suas carreiras. Ficam mais felizes que um tornado num parque de caravanas.
quinta-feira, novembro 16, 2006
segunda-feira, novembro 13, 2006
A Razão do Taxista de Aeroporto
Para os mais distraídos podem não existir diferenças e parecer tudo a mesma coisa, mas não é. O taxista de aeroporto tem um património genético diferente do vulgar taxista. Algures no processo de evolução do taxista houve um ramo que foi afectado pela síndrome do funcionário público e que ditou o nascimento de uma nova estirpe, com um QI mais modesto, que reúne o pior do que podemos encontrar dentro de um táxi.
O taxista de aeroporto tem particularidades inimagináveis para os taxistas vulgaris. A sua principal característica reside no facto de não conceberem que se possam apanhar clientes fora do aeroporto. É algo que não lhes passa pela cabeça. Para um taxista de aeroporto, os clientes nascem de dentro dos aviões e é absolutamente impensável apanhá-los no meio da rua ou numa vulgar paragem de táxis dentro da cidade. Por isso mesmo, a vida de um taxista de aeroporto reveste-se de um carácter rotineiro onde cada dia começa e acaba, invariavelmente, no terminal de aeroporto.
Ao contrário do taxista vulgaris, o taxista de aeroporto sai do seu carro quando apanha um cliente. Cada início de bandeirada tem um ritual muito próprio que consiste em sair do carro, abrir o porta-bagagens, e ficar especado a olhar bovinamente para o cliente que, de vértebras comprimidas, se esforça a arrastar as suas pesadas malas para dentro do táxi.
Por razões que ainda ninguém conseguiu explicar até hoje, o taxista de aeroporto tem uma obsessão doentia com grandes distâncias, e torna-se ainda mais bruto se a bandeirada consiste apenas em meia dúzia de quilómetros para além do aeroporto. Na óptica do taxista de aeroporto, se um tipo apanha um táxi no aeroporto tem que fazer, pelo menos, uma bandeirada de 300 km que justifique e financie o facto de este ter estado três horas a coçar a micose numa fila de táxis num terminal de aeroporto. Explicar-lhes que, se quiséssemos viajar para 300 km dali mais valia termos voado para outro aeroporto é tempo perdido, porque para um taxista de aeroporto não existe outro aeroporto. Só aquele. O dele.
Outro raciocínio complexo do taxista de aeroporto está relacionado com a dimensão e número de malas que os clientes têm. Para ele, o número e a dimensão das malas estão inexplicavelmente relacionadas com a distância a percorrer: se tivermos muitas malas e grandes é vulgar que o taxista de aeroporto ache que vai percorrer o país connosco; se tivermos apenas uma mala de cabine ele olhar-nos-à com uma desconfiança abrutalhada enquanto cumpre o ritual de abrir o porta-bagagens. Para um taxista de aeroporto ninguém pode ir muito longe com uma mala de cabine.
Ao contrário do taxista vulgaris, um filósofo da bandeirada que nos quer convencer de qualquer coisa o tempo todo embrulhando cada trajecto numa conversa interminável, o processo da fala de um taxista de aeroporto é complexo e está directamente relacionado com a distância que lhe é solicitada para percorrer: se a bandeirada tiver menos de 5 km ele só consegue bufar e abanar a cabeça; se a bandeirada se situar entre os 5 e os 10km ele grunhe pontualmente ao longo do trajecto; se a bandeirada estiver acima dos 10km ele não emite qualquer som, embora apresente uma postura rígida que se assemelha a um cherne com 3 semanas de congelador. Há quem diga que, a partir do quilómetro 50, o taxista de aeroporto consegue pronunciar um conjunto de palavras que se assemelham vagamente a português, mas isto ainda está por provar.
Finalmente, falemos do espírito de matilha. Os taxistas vulgares têm-no. Os taxistas de aeroporto não. A pior coisinha para um taxista de aeroporto é outro taxista de aeroporto. Parado horas intermináveis no terminal, numa fila de táxis, o taxista de aeroporto fixa toda a sua bilis no colega do carro da frente. Com a certeza absoluta que «aquele filho da puta vai apanhar um gajo que quer viajar por Portugal inteiro numa única bandeirada», e que ele inevitavelmente apanhará um cliente para a próxima rotunda. Depois de horas e horas a consumir-se nesta lenga lenga ácida eis que, tenso e prestes a rebentar, se dirige para o cliente que lhe coube na fila e que lhe diz: «É para a próxima rotunda, segunda entrada, se faz favor».
Há vidas muito tristes.
domingo, novembro 12, 2006
sábado, novembro 11, 2006
A Razão de Cabeça Perdida
sexta-feira, novembro 10, 2006
A Razão do Insulto Gratuito
quinta-feira, novembro 09, 2006
A Razão Daltónica
terça-feira, novembro 07, 2006
A Razão dos Esquemas
No que toca a esquemas, os portugueses são imbatíveis. Não há povo no mundo que consiga produzir tanto esquema em tão poucos quilómetros quadrados. Se estão a pensar nos brasileiros, esqueçam: apesar de terem aprendido connosco a arte e de serem mais 140 milhões do que nós, não nos chegam aos calcanhares quando analisamos a quantidade de esquemas per capita.
Tudo o que acontece em Portugal faz parte de um esquema qualquer, iniciado por alguém, para lixar outrem. Quando olhamos à nossa volta, é impressionante a quantidade e variedade de esquemas que diariamente nos passam pela frente. Temos esquemas que chegam todos os dias às páginas do jornais, e quando isso acontece sabemos que se tratam de esquemas mal feitos, porque os esquemas bem feitos e bem montados são como os crimes perfeitos: ninguém os topa.
Estamos tão habituados a viver neste esquema que já não ligamos para a maior parte dos esquemas. É como se fizessem parte do esquema. São os chamados esquemas habituais. Acontecem tão naturalmente como o ar que respiramos e, não alinhar neles, é capaz de nos sufocar.
Temos também os velhos esquemas. Aqueles esquemas bafientos e instituídos que, quando denunciados pela comunicação social, acabam por se tornar esquemas manhosos e são substituídos por esquemas mais modernos.
A dimensão dos esquemas também é importante nesta telenovela mexicana: normalmente quem está envolvido em grandes esquemas e é apanhado, goza de uma espécie de glorificação bacoca e sai normalmente impune do esquema – o que leva a crer que há uma espécie de respeito e admiração velada e boçal por quem é um grande esquemático. Aqui, neste rectangulozinho, é prestigiante enganar muita gente. Ao contrário, o pequeno esquema (também designado por esquemazinho) é altamente penalizado. O lema parece ser «se roubares, rouba com estilo e em grande».
Temos finalmente uma classe de esquemas que parecem estar directamente relacionados com a necessidade de protagonismo mediático que os portugueses de classe média têm vindo a desenvolver na última década: são os esquemas marados (também designados por esquemas dos caraças). O objectivo destes esquemas é dar nas vistas, tentando assemelhar-se aos grandes esquemas, numa tentativa vã e desesperada de poderem ser considerados inteligentes, com o decorrente prestígio que daí advém. É claro que isto só denota a estupidez atávica de quem os cria – é tido e sabido que um esquema, para ser grande, tem que ser acima de tudo muito discreto. E os esquemas marados têm invariavelmente a discrição de um elefante numa loja de cristais...
Estão a ver o esquema?
sábado, novembro 04, 2006
A Razão dos Avisos de Cabine
«Senhoras e senhores, o avião está a estabilizar e, em breve, atingiremos a velocidade de cruzeiro. Isto quer dizer que o pessoal que está no cockpit vai descontrair e fumar umas coisas que trouxeram do Havai. Depois de umas seis passas, desligam o piloto automático, tiram as mãos dos comandos e deixam o avião fazer o que entender durante uns minutos. O comandante sugere que mantenham os cintos de segurança apertados a não ser que tenham uma vontade muito grande de ficar com um traumatismo craniano.
O comandante acaba de desligar a luz de obrigatoriedade de manter os cintos apertados. Foi sem querer. O charro que estava a fumar caiu-lhe no colo, e quando se levantou, bateu com a cabeça no botão.
O comandante desligou a luz de obrigatoriedade de manter os cintos apertados mas avisa que é melhor manterem-se atentos porque, às vezes, estes aviões não funcionam tão bem como desejável.
O comandante ligou a luz de obrigatoriedade de manter os cintos apertados outra vez. Também acaba de enfiar meio quilo de nozes pelas narinas acima. Por isso, é melhor serem vocês a decidir o que querem fazer com os cintos.»
George Carlin
quarta-feira, novembro 01, 2006
A Razão da Secessão
Millôr Fernandes