terça-feira, outubro 31, 2006

A Razão dos Gases

gases
Portugal é um dos sete países da Comunidade Europeia que não vai cumprir os objectivos de Quioto no que respeita à emissão de gases para a atmosfera. Pelos vistos estamos a emitir mais gases do que aqueles que prometemos aos senhores. Tenho dificuldade em perceber porquê, por várias razões:
O sector primário do país é praticamente inexistente, e portanto se as debulhadoras mecânicas e os tractores andam cada vez mais parados, não é lógico que os gases aumentem.
Por outro lado, no sector secundário, só vemos fábricas a encerrar, uma após outra. Ora se há cada vez menos fábricas a operar no território nacional, seria lógico pensar que a emissão de gases diminuiria face à década anterior.
No sector dos transportes, outro grande responsável pela emissão de gases, temos cada vez mais greves públicas. Ora se é raro os transportes públicos funcionarem em pleno neste país, seria mais uma vez lógico, que menos gases fossem emitidos.
Podíamos até culpar os automobilistas, mas desde há 4 anos que observamos uma queda na venda de automóveis em Portugal, portanto também não é por aqui.
Por tudo isto não percebo de onde surge este acréscimo de gases. Só vejo duas possibilidades:
1. Andamos todos a apertar demasiado o cinto e inevitavelmente mandamos os gases todos cá pra fora.
2. Temos cada vez mais flatos sem cheiro a fazer política em Portugal.
Das duas, uma. Ou duas.

segunda-feira, outubro 30, 2006

A Razão das Causas

causas
Se há coisinha que eu acho mesmo nobre é uma bela causa. Lutar por uma causa é uma coisa mesmo bonita, principalmente quando olhamos para o tipo de causa. Vejamos, por exemplo, aqueles indivíduos que lutam por causas perdidas. Não é bonito? Não é romântico? Não é patologicamente estúpido? Lutar por algo que não se sabe onde está requer uma certa dose de alheamento da realidade e de um prazer mórbido em nunca chegar a lado nenhum. É bonito.
Também acho piada ao lado estético das causas: são as chamadas boas causas. E sabe Deus como há causas boas como o milho...
Mas o tipo de causas que mais aprecio são as causas maiores. Haverá causa mais nobre do que a causa maior? Duvido. Não há causa que despolete mais efeito que a causa maior. Principalmente aquelas mesmos grandes, acima do metro e oitenta. Aquilo é causa que nunca mais acaba. Tem uma extensão tão sublime que por vezes, para muito boa gente, até se confunde com as boas causas.
Já as causas menores dispenso: considero-as quase invariavelmente uma espécie de pedofilia intelectual.

sábado, outubro 28, 2006

A Razão da Parvoíce

parvoice
Porque não ser parvo? Um parvo praticante e diplomado. Ou, se tiver competência para isso, um PPE, Parvo Público Encartado. Pode não parecer quando olha à sua volta, mas não há parvos que cheguem no nosso país. Como resultado disso, pode ganhar-se muito dinheiro com a parvoíce. O parvo médio ganha pipas de massa por ano, mais regalias. E há vagas para parvos em todos os sectores: o governo é gerido por parvos, as grandes empresas são geridas por parvos e o comércio está a abarrotar de parvos. E cada vez mais pessoas enveredam por uma carreira de parvo freelancer. Ligue já para o Instituto Técnico da Parvoíce e receba o nosso panfleto gratuito «Ei, parvalhão, aprende a ser parvo a sério!» A maior parte das pessoas consegue ser parva em festas mas esta é a sua oportunidade de ser um parvo a tempo inteiro e durante todo o ano. Ligue-nos. Não se faça de parvo, seja um parvo.

George Carlin

sexta-feira, outubro 27, 2006

A Razão dos Seres Superiores

seres superiores
Na Alemanha rebentou uma escandaleira que envolve um grupo de soldados alemães que fazem parte do contingente da ONU no Afeganistão. Os soldados deixaram-se fotografar posando alegremente para a câmara com um crânio numa mão e um pénis na outra. Os media alemães, para não enervarem os sempre enervadinhos árabes, dizem que os soldados profanaram um cadáver de um soldado russo, morto em combate nos anos 80. Confesso que não percebo como é que um cadáver de um gajo que morreu há quase 20 anos apresenta um crânio completamente desprovido de carne e um pénis não decomposto, mas desconfio que se deve a algo que os russos punham na ração de combate dos seus soldados.
Mas o que realmente interessa nesta história não é o mistério da mumificação selectiva e sim a violenta reacção dos orgãos oficiais alemães, ao questionável comportamento dos seus soldados. A reacção mais preocupante vem de um senhor que foi antigo comandante da ISAF e que afirma que «a imagem positiva que os militares alemães sempre gozaram junto das populações locais poderá ser seriamente afectada».
Quando leio estas coisas só posso achar que, de facto, estes gajos continuam a ser os maiores caras-de-pau da Europa e que o seu recorrente complexo de superioridade teima em vir ao de cima. Esta malta esquece-se do que andou a fazer na Europa há duas gerações atrás. Esta gentalha acha que, 50 anos depois, toda a gente apagou da memória a «imagem positiva dos militares alemães», e a sua conduta selvagem e criminosa. Estes calhordas acham que, por os deixarem andar de armas na mão, a fazer parte dos contingentes da ONU, reabilitaram a sua imagem no mundo. Desenganem-se. Eu não me esqueço de vocês. E espero que o mundo também não.

Foto: Vala comum em Bergen-Belsen, depois da interacção social da população local com os militares alemães.

quinta-feira, outubro 26, 2006

A Razão da Hiperactividade

hiperactividade
A hiperactividade é uma coisa que não existia há uma geração atrás. Havia putos energéticos, imparáveis e cansativos. Mas não eram hiperactivos. Hoje em dia, um em cada 2 filhos dos meus amigos são hiperactivos. E ser hiperactivo consiste em fazer a maior merda possível no mais curto espaço de tempo. Os putos hiperactivos são, na realidade, uns espertalhaços e os seus pais uns grandes bananas.
Se alguém que está a ler isto acha que tem em casa um filho hiperactivo, não tenho grandes notícias para lhe dar: não há filhos hiperactivos! Pois é queridos, não há. Assim como não há homens impotentes mas sim mulheres incompetentes, na questão dos filhos com hiperactividade a dialéctica é parecida. Não há filhos hiperactivos mas sim pais sem a capacidade de ensinarem aos seus filhos as regras basilares da vida em sociedade, bem no seu início. Os putos hiperactivos são, nada mais nada menos, que um eufemismo pretensioso para definir crianças mal educadas, impertinentes, futuros adultos secantes que, naquele momento inicial das suas vidas como seres humanos, apresentam graves sintomas de má educação.
A cura da hiperactividade não reside nas escolas especiais para hiperactivos. Isso é apenas um expediente de uma boa dúzia de mamões para enganar uns papás que já são diariamente enganados pelo seu filho «hiperactivo». A verdadeira cura da hiperactividade resume-se num bom par de chapadas no momento certo, e o resto é conversa.

terça-feira, outubro 24, 2006

A Razão da Expectativa

expectativa
Lembram-se do Fernando Mamede? Aquele meio-fundista que corria que se fartava? Durante 6 anos seguidos o Mamede parecia imparável e arrebanhava tudo por onde passava: foi detentor de 27 recordes nacionais, de 1 recorde mundial, e de 3 recordes europeus. Até que um dia, algures nos finais dos anos 80, o Mamede ficou com medo de ganhar, e nunca mais ganhou nada. Desde então, sempre que entrava em competições importantes, numa posição de favorito, o Mamede stressava com a possibilidade de não corresponder às expectativas. E stressava tanto que as pernas deixavam de lhe obedecer.
Portugal faz-me lembrar o Mamede: durante séculos corremos que nem uns desvairados a descobrir e a povoar, mal e porcamente, os quatro cantos do mundo. Fizemo-lo com a inconsciência alarve da necessidade. E um belo dia, quando quisemos encontrar o nosso lugar no mundo, stressámos. Stressámos com o facto de sermos apenas um rectangulozinho no fim da Europa, como se alguma vez o tivéssemos deixado de ser, ou como se aqui fosse o fim da Europa. Stressámos com as expectativas que criámos para nós próprios. E desde altura parecemos uns Mamedes, de pernas bambas, governados por uns Mamões.
Continuo à espera da geração de Obikwelus que, paradoxalmente, tarda em chegar.


Nota: Uma Sandes de Atum fez ontem anos. Vão lá dar os parabéns ao Papo-Seco que há dois anos nos anima os Sábados, às Sextas.

domingo, outubro 22, 2006

A Razão Iconoclasta

iconoclasta
Nunca vi ninguém a limpar uma igreja. Já tenho visto muita coisa mas nunca vi uma equipa de limpeza a trabalhar numa igreja, a aspirar e a varrer. A limpar o pó às imagens e a esfregar o altar. Sabem porquê? Consegui perceber o motivo. As igrejas não precisam de ser limpas porque Deus trata disso. É um milagre, o tipo de coisas que faz das igrejas, igrejas.
Funciona assim: depois de uma igreja ter sido construída, os proprietários esperam seis meses e espreitam lá para dentro. Se estiver limpa, ficam a saber que é uma igreja. Depois, é só preparar a grande inauguração. Desse dia em diante, nunca mais terão de a limpar. Não importa o tipo de lixo, imundície ou porcaria que os pecadores arrastem lá para dentro. O sítio fica sempre impecável. Mas, aqui entre nós, um bocado de limpa-vidros naqueles vitrais de vez em quando não fazia mal nenhum. Ajudava a realçar aquelas cores bonitas que usam para mostrar a tortura e o sofrimento dos santos.

George Carlin

sábado, outubro 21, 2006

A Razão da Governação

governacao
O maior problema - um dos maiores problemas, pois há muitos -, um dos muitos maiores problemas da governação é quem se arranja para a fazer; ou antes, quem consegue convencer as pessoas a deixarem alguém fazer-lhes isso.
Resumindo: é bem sabido que as pessoas mais empenhadas em governar são, ipso facto, as menos capazes para o fazer.
Resumindo o resumo: aquele que consegue ser feito governante, não devia, de modo algum, ser deixado exercer o cargo.
Resumindo o resumo do resumo: as pessoas são um problema.
E a situação que encontramos é a seguinte: uma sucessão de dirigentes que gostam tanto de pândega e conversações decorrentes do poder que muito raramente reparam que não o têm.
E algures nas sombras – quem?
Quem poderá governar, se aqueles que nisso se empenham não o devem fazer?


In, O restaurante no fim do Universo, de Douglas Adams

sexta-feira, outubro 20, 2006

A Razão da Alegria da Taberna

alegria da taberna
Sócrates:
Agora imagina como se encontra o estado da nossa nação, relativamente à consciência social. Imagina funcionários públicos numa taberna que improvisaram de maneira a transformar aquilo num local de atendimento ao público. Esses funcionários estão ali desde que acabaram a pré-primária, impedidos de saír da taberna vá-se lá saber porque razão. Não fazem a mínima ideia do que estão ali a fazer, nem se mostram grandemente preocupados com isso. Perfilados atrás do balcão, os funcionários públicos estão todos virados para o mesmo lado: a imponente montra da taberna, em vidro fosco. Conseguem aperceber-se que existe vida para além do vidro fosco - vultos passam por lá todos os dias a toda a hora, mas os funcionários públicos não fazem ideia do que são os vultos, até porque que não fazem ideia de que existem pessoas para lá do perímetro da taberna. Consegues imaginar isso?

Glauco:
Sim, consigo. Desde que fui atropelado por 20.000 professores que se manifestavam pelas razões mais absurdas, consigo imaginar tudo. Até uma tribo somali.

Sócrates:
Imagina agora que, do outro lado do vidro fosco, no mundo real, na rua da taberna, estão pessoas que contribuem mensalmente para alimentar aqueles indivíduos especados dentro da taberna, alinhadinhos atrás do balcão, a olhar para o vidro fosco.

Glauco:
Pagam-lhes mensalmente para estar dentro da taberna a olhar para um vidro fosco?

Sócrates:
É verdade. Pagam-lhes para isso e pagam-lhes uns copos. E aí é que a coisa se complica de sobremaneira, porque quando estão com uns copitos a mais, os funcionários atrás do balcão começam a imaginar coisas esquisitas em relação aqueles vultos que passam no vidro fosco. E depois enervam-se muito e manifestam-se, e fazem greves, e reinvindicam merdas.

Glauco:
Fazem greve de quê, se na realidade não estão lá a fazer nada?

Sócrates:
Bem observado. A questão é que eles não sabem que não estão lá a fazer nada. Aquele é o seu pequeno universo. Não fazem ideia que estão enfiados numa taberna situada numa rua movimentada.
Agora imagina se lhes tirassem o vidro fosco e lhes pusessem um daqueles espelhados, que só se vê de dentro para fora?


Glauco:
Bem, nesse caso eles seriam obrigados a tomar consciência que existem pessoas para além daquela taberna.

Sócrates:
Imagina agora que para além do vidrinho último modelo, lhes abrem a porta da rua e obrigam os gajos a atender toda aquela malta que anda lá fora e que lhes paga os copos. Não desviarão eles os olhos, acreditando que tudo aquilo é uma perfeita mentira e que na realidade o melhor é terem o vidrinho fosco e a porta fechada?

Glauco:
Sem dúvida. Mas onde queres chegar com esta conversa, por Zeus?

Sócrates:
Estava só a tentar chegar à conclusão se vale a pena estarmos a perder tempo com estes tipos. Se o melhor não era contratar uma equipa de demolição que arrasasse a taberna de uma vez só, com os gajos lá dentro.

Glauco:
Certamente mestre. Seria uma alegria.


A República dos Bananas, de Humor Negro (Livro VII)

quarta-feira, outubro 18, 2006

A Razão sem Razão


Para mimar os leitores deste blog, o livro da Razão terá um pré-lançamento online no dia 25 deste mês. Isto significará que quem quiser pagar para ler aquilo que sempre teve à borla poderá adquirir o livro uma semana antes dele sair para o mercado editorial. Mas os mimos não acabam aqui: quem encomendar o livro online (no pré-lançamento e depois dele) verá chegar a sua casa uma cópia autografada. Quem é amigo, quem é? Tentei negociar com a editora que os livros fossem entregues em mão pela Nicole Kidman, envergando vestes reduzidas, mas não havia orçamento para isso. Portanto ficam-se só pelo autógrafo e já gozam.
Depois do pré-lançamento poderão, ainda assim, comprar o livro online, bastando para isso clicarem aqui e fazer a encomenda. Para aqueles que não gostam de usar o cartão de crédito em compras online, uma boa notícia: não vão ter essa hipótese.
E por hoje chega de mimos.

domingo, outubro 15, 2006

A Razão Suicida

suicida
Há uma coisa que eu não percebo nas pessoas com tendências suicidas. Tentam suicidar-se, por qualquer razão não conseguem morrer, e pronto. Deixam de tentar. Porque é que não continuam a tentar? O que é que mudou? A sua vida terá melhorado? Não, deve ter piorado, porque agora têm mais uma coisa em que falharam. E, para começar, é por isso que essas pessoas não têm sucesso na vida. Desistem com demasiada facilidade.
A minha sugestão é: os comprimidos não funcionam? Experimentem uma corda. Não conseguem pôr o carro a trabalhar na garagem? Mandem afinar o motor. Não há nada mais compensador do que atingir um objectivo que fixámos para nós próprios.


Jerry Seinfeld

sábado, outubro 14, 2006

A Razão Naturalista

naturalista
O homem, um animal, recebeu da natureza um cérebro imperfeito que lhe filtra umas poucas verdades metafísicas (a noção da morte, por exemplo) que o fazem totalmente infeliz. Enquanto isso os animais perfeitos – com um cérebro que lhes impede a consciência de qualquer sentimento não-animal – divertem-se à brava.


Millôr Fernandes

sexta-feira, outubro 13, 2006

A Razão de Pedro e o Lobo

pedro e o lobo
Da série «histórias mal contadas» temos hoje Pedro e o Lobo. A história de um rapazinho que gostava de dizer inverdades – um eufemismo político que significa que o rapaz era um miserável mentiroso, digno de uma tribo somali sem qualquer tipo de lubrificação afrodisíaca.
Conta a história que o rapaz, ostentando a função de apascentador de ovelhas na sua carteira profissional, manifestava uma fixação esquisita, de índole meramente sexual, no lobo que mantinha uma relação contra-natura com o capuchinho vermelho e sua avózinha. Pedro tinha, obviamente, problemas. Todas as suas tentativas de se inscrever no movimento gay lésbico bissexual e transgênero tinham sido indeferidas pelo facto da coisa não envolver animais. «Nem domésticos, nem selvagens» tinham-lhe sentenciado lá no posto de recrutamento do GLBT. Mas Pedro não se conformava com esta discriminação – se o movimento era tudo ao molhe e fé em Deus porque raio não incluiam animais?
Desesperado, Pedro passava os dias a arrastar-se pelos bosques, gritando «Lobo, lobo!» na vã esperança de que o animal lhe aparecesse à frente (ou atrás).
Mas o máximo que Pedro conseguiu foi enervar o pessoal lá da aldeia. Sempre que ele gritava «Lobo» a malta pegava nas gadanhas e vinha, desaustinada, defender as ovelhas. Ao fim de alguns dias de repetidos falsos alarmes a populaça perdeu a paciência e, mesmo sem recorrer a uma tribo somali devidamente untadinha, presenteou Pedro com um andar diferente. Pedro gostou. Desde aí perdeu completamente o interesse pelo lobo, mas não se coíbe de gritar por ele de vez em quando. Principalmente naqueles dias em que sente muito sozinho.

quarta-feira, outubro 11, 2006

A Razão de Provar Roupa

provar roupa
As mulheres encaram a roupa de uma forma completamente diferente. Noutro dia estava numa loja a ver as mulheres a admirarem a roupa e reparei que elas não a experimentam – põem-se por detrás dela. Tiram um vestido do cabide e põem-no à sua frente. E tiram uma conclusão qualquer. Esticam uma perna para a frente e inclinam-se ligeiramente para trás. Devem precisar de saber:«se um dia eu só tiver uma perna e tiver uma curvatura de quarenta e cinco graus, o que hei-de vestir?»
Nunca se vê um homem fazer aquilo. Nunca se vê um homem tirar um fato do cabide, pôr a cabeça por detrás da gola e perguntar: «O que é que acham deste fato? Acho que vou levá-lo. Ponha aí uns sapatos ao fundo das calças para eu ter a certeza. E se fôr a andar? Mexa aí os sapatos, mexa aí os sapatos.»

Jerry Seinfeld

terça-feira, outubro 10, 2006

A Razão do Rei Satélite

«Quando o meu filho mais velho nasceu, no ano seguinte houve um aumento da natalidade do país.»

D. Duarte Pio em entrevista ao 24 Horas

De tempos a tempos, este jovem sente a compulsão de aparecer nos jornais e dizer umas coisas para a malta se aperceber que ele ainda existe. Infelizmente, raras são as vezes (se é que as houve) em que diz algo de relevante para aqueles que, na sua vertigem alucinada, considera serem os seus súbditos.
Desta vez estabelece uma correlação fundamental entre a sua vida sexual e a dos portugueses, acreditando piamente (ou não se chame ele Pio) que as suas acções despoletam irreversíveis macro tendências na nação portuguesa. Uma vez que ainda ninguém lhe explicou as virtudes ergonómicas de uma guilhotina, resta-nos aproveitar a sua mitomania e colocá-la ao serviço do país, contribuíndo para as profundas transformações estruturais que o desgoverno de Sócrates já mostrou ser incapaz de resolver:

Se Duarte Pio começar a trabalhar ainda este ano, em 2007 acabará o desemprego em Portugal. Sugiro que alguém ofereça uma enxada ao homem porque o sector do primário deste país está a desaparecer.

Se Duarte Pio preencher a sua declaração de impostos até ao final deste mês teremos resolvido em Janeiro próximo o problemas das dívidas ao fisco com milhares de portugueses a entupir, em histeria monárquica, todas as repartições de finanças do país, pagando tudo o que tinham para pagar.

Se Duarte Pio não ficar doente na próxima década terá resolvido por várias gerações o problema da saúde em Portugal.

Se Duarte Pio continuar a andar a cavalo estará a contribuir para que, dentro de cinco anos, Portugal reduza em 70% as suas emissões de carbono para atmosfera e veja o seu parque automóvel reduzido a 1.500 unidades (os carros dos membros do governo e seus respectivos secretários). O Estado deixará de empochar o imposto automóvel, mas que se lixe: seremos o país mais ecológico do planeta a seguir ao Ghana.

Se Duarte Pio deixar de dizer barbaridades aos jornais, dentro de um ano deixaremos de ter imprensa escrita e os jornalistas passarão a dedicar-se a profissões mais edificantes, como a pesca do bacalhau nos mares do norte, por exemplo.

Os franceses tinham o Rei Sol. Nós temos o Rei Satélite. Estamos claramente mais bem servidos que esse povinho que fala com a boca em «U».

segunda-feira, outubro 09, 2006

A Razão Casapiómana

casapiómana


Frederico Pedrosa, perito do Instituto de Medicina Legal, negou que as manchas do pénis de Carlos Cruz possam, em erecção, chegar ao tamanho de uma moeda de um cêntimo, como disse uma das vítimas.

in Revista Sábado, 4.Out.2006

Fui surpreendido por esta pequena notícia no fim de semana. Aparentemente há uma criatura no IML que andou a medir manchas no pénis erecto de Carlos Cruz. Estão a ver como há trabalhos muito mais miseráveis que o vosso? Naqueles dias que estiverem fartos do vosso patrão lembrem-se que poderiam estar a medir manchas em pilas num sítio qualquer.
O lado interessante desta notícia não é a peritagem do Frederico Pedrosa mas sim o que esta sugere: aparentemente houve uma vítima de pedofilia que afirmou que o Carlos Cruz tinha manchas no pénis e que estas tinham «o diâmetro de uma moeda de um cêntimo». Vem-se agora a provar que a vítima não tinha razão nenhuma, o que provavelmente vai conduzir à impugnação do seu testemunho por falta de prova. Não interessa nada que Carlos Cruz tenha manchas no pénis – algo que é tão vulgar como ter impresso no pénis a última tentativa de romance de Margarida Rebelo Pinto. O que interessa é que a dimensão das manchas não corresponde milimetricamente à verdade. Aliás, se as manchas tivessem o diâmetro de moedas de dois euros a vítima estaria lixada na mesma porque, no fim do dia, o processo Casa Pia terminará, à conta destes pequenos expedientes de pacotilha, sem vítimas nem acusados, provando uma vez mais a ineficácia e o engajamento do sistema de justiça português.
Casapiano e casapiómano significarão, no fim desta fantochada digna da nossa telenovela mexicana, exactamente a mesma coisa. Para mal dos primeiros.

domingo, outubro 08, 2006

A Razão da Obra Precária

obra precária
Jesus foi só mais um carpinteiro que prometeu voltar noutro dia para terminar o serviço.

Zé Rodrix

sábado, outubro 07, 2006

A Razão da (boa) Proporção

proporções
Existem três mil milhões de mulheres no mundo. Apenas oito são top models.

Publicidade da Body Shop

quarta-feira, outubro 04, 2006

A Razão da Depenação

depilação
As mulheres são de extremos no que toca à manutenção. A forma como elas cuidam dos pêlos que têm no corpo é absolutamente espantosa. Um dos grandes mistérios para mim é o facto de uma mulher conseguir pôr cera quente nas pernas, arrancar os pêlos pela raiz e continuar a ter medo de uma aranha.
Às vezes vão ainda mais longe - recorrem à electrólise. É o mesmo que pôr os pêlos, um a um, na cadeira eléctrica. É a pena de morte do pêlo. Põem o pêlo na cadeirinha, põem-lhe o capacete metálico, dão-lhe uma última passagem com champô e com o amaciador que ele escolher. A única coisa que o pode salvar é um telefonema da Epilady.

Jerry Seinfeld

segunda-feira, outubro 02, 2006

A Razão da Caça



Abriu recentemente a época da caça e os caçadores andam preocupados porque há menos bichos para caçar do que no ano passado. Existem várias razões para este fenómeno:
A primeira delas costuma designar-se por «é a caçadeira, estúpido» e está directamente relacionada com o caçador que hoje se indigna de não haver caça. Aparentemente, os caçadores não têm percepção da correlação entre a quantidade de bichos que matam e a quantidade de bichos que sobram. Aliás, a incapacidade de correlacionar seja o que fôr (um dos barómetros do nível de inteligência) é fraca junto dos caçadores. Um coelho bravo adulto consegue correlacionar mais dados que um caçador. Já a perdiz demonstra mais dificuldade nesta matéria. Mas isso não interessa nada agora.
A outra razão prende-se com o custo de vida e a deterioração das condições de trabalho que, como sabemos, têm vindo a piorar em Portugal. Os bichos portugueses não só têm a noção que a sua vida custa cada vez menos por aqui, como não têm condições para trabalhar num país que, de ano para ano, incendeia alucinadamente milhares de hectares de mata e floresta, tornando impossível a educação básica das suas crias: como ensinar uma cria a esconder-se em terreno aberto? Impossível. Rejeitando a hipótese de se tornarem alvos fáceis, os bichos têm emigrado massivamente para a vizinha Espanha onde, apesar das dificuldades da língua, vêem a sua esperança de vida aumentar drasticamente.
Finalmente, aquela que parece ser a razão estrutural para a gradual falta de caça em Portugal, temos a «Síndrome de Sócrates» (exactamente o oposto da «Síndrome de Estocolmo»). Desde que José Sócrates está no poder que o número de bichos tem vindo gradualmente a baixar. É que nem os bichinhos gostam...

domingo, outubro 01, 2006

A Razão no Trânsito

tráfico
Há uma ou duas coisas que nos devemos lembrar quando estamos no trânsito. Primeiro, nunca devemos ficar atrás de alguém esquisito. Já alguma vez ficaram atrás de um gajo que leva o pisca pisca ligado durante os últimos 5 km? E vocês pensam «Bem, é um tipo muito cauteloso. É melhor não o ultrapassar agora, não vá ele virar a qualquer momento». Mais tarde descobrimos que o gajo anda a viajar de carro à volta do mundo - sempre pela esquerda.

Por falar em ficar atrás: não adoram quando um gajo qualquer se cola na traseira do vosso carro com os máximos ligados? Não é porreiro? Um merdas qualquer que acabou de alinhar os seus faróis e agora quer que vocês vejam o trabalho profissional do seu mecânico? Sabem como se lida com um javardo destes? Ponham os travões a fundo e deixem o gajo espetar-se contra a vossa traseira. Pode custar-vos algum dinheiro, mas de certeza que apaga a porra daquelas luzes num instantinho. Depois, o gajo que encontre o caminho para casa no escuro.

George Carlin