quinta-feira, maio 11, 2006

A Razão do Tédio

tedio

Se há uma maneira de distinguir a cultura ocidental da cultura oriental é a maneira como ambas encaram o tédio. Os orientais têm uma perspectiva positiva da questão: encaram o tédio olhando para o seu potencial. Para eles o tédio é um estágio do processo criativo. Um limbo. Acreditam que é a partir dele que tudo nasce. É uma perspectiva interessante e desculpabilizadora, na minha singela opinião.
Já na perspectiva ocidental o tédio é sinónimo de seca, de angústia desmesurada, de não ter nada para fazer, e de «ai ai ai tenho que fazer qualquer coisa para me sentir útil».
Os portugueses, provavelmente contaminados pelas influências muçulmanas que insistentemente gostamos de contrariar, têm uma perspectiva muito particular do tédio quando enquadrada no panorama ocidental: para o tuga, o tédio é uma merda que se tem de contrariar com todas as nossas forças. Se juntarmos a isto aquela característica nacional que nos define tão bem que é a inveja, então veremos que o tédio luso é a melhor aproximação ocidental ao tédio oriental: ficamos muito criativos para dar cabo da vida de alguém. O português quando está entediado embirra com outro português. É o seu modus operandi para ultrapassar esta questão. Embirra com o facto do outro não pertencer ao seu clube, embirra com o facto do outro ter uma casa melhor, um carro melhor, um emprego melhor, um ordenado melhor, uma inteligência melhor, um sentido de humor melhor, enfim... muita coisa melhor. O que é curioso é que este melhor é perfeitamente subjectivo. É algo que só quem está com tédio sente, e que não é necessariamente a realidade. Mas que se lixe: para o tuga, lixar outro tuga é a melhor maneira de saciar o seu tédio. É a nossa faceta Zen.

Sem comentários: