Da série «histórias mal contadas» temos hoje o famoso Capuchinho Vermelho: a história de uma jovem criatura do sexo feminino que vai levar o lanche à sua avózinha doente, que vive do outro lado da floresta e que encontra um lobo que a quer comer. Literalmente.
Eu tenho imensas reservas quanto a esta história de miséria infantil e pedofilia. A começar pelo comportamento perfeitamente inconsciente da mãe que envia a criancinha para o desconhecido e vestida de vermelho (de referir que a escolha do vermelho não é a mais feliz, remetendo-nos de imediato para um universo de potencial deboche com forte conotação sexual – o que provavelmente foi a intenção do autor da história), expondo-a desnecessariamente à luxúria rebarbada de um lobo que, pelos vistos, tresandava a pedófilo como gente grande.
Diz a história que o lobo interpela a criancinha a meio caminho, ficando a saber qual o seu destino. Pergunto-me porque diabo o lobo não deu azo às suas desvairadas pulsões sexuais logo no primeiro encontro e não despachou logo ali a jovem de vermelho? Continuo sem perceber a opção do lobo em deslocar-se inicialmente para a casa da avózinha, comê-la (se isto não é um comportamento desviante, não sei o que será...) e logo a seguir travestir-se de avózinha (outro comportamento de conduta deveras questionável) aguardando pacientemente a chegada da jovem de capuchinho vermelho. Temos portanto um lobo travesti e pedófilo com um gosto mórbido por gerontes, e um comportamento assaz maquiavélico a roçar o compulsivo-obsessivo – é muita fruta para um lobo só.
Mas onde a história descamba completamente é quando o Capuchinho Vermelho chega à casa da avózinha e não se apercebe de imediato que aquele ser deitado não é a sua avózinha mas sim o lobo. Das duas uma: ou a velha tinha problemas graves de saúde para apresentar aquela pelagem ou o Capuchinho Vermelho era um verdadeiro calhau com olhos. Eu por mim aposto na segunda hipótese, a julgar pelas perguntas inconsequentes que a petiz faz à sua pouco provável avó.
O lobo acaba por se fartar de tanta pergunta e come também, várias vezes durante essa tarde, a pequena Capuchinho Vermelho. Diz a história oficial que uns lenhadores entram pela casa adentro e salvam a situação matando o lobo, abrindo-lhe a barriga, e retirando de lá dentro a avó e o Capuchinho Vermelho, intactas. Frescas que nem uma alface!
Eu acho estranho este comportamento dos lenhadores a entrarem ali por dentro como se fosse tudo deles. A não ser que houvesse ali marosca da boa com a avó e aquilo fosse um comportamento habitual. Mas acho ainda mais estranho que as criaturas sejam arrancadas vivas das entranhas do lobo: ninguém aborda o efeito dos sucos gástricos nesta história?
O verdadeiro desfecho não foi, obviamente, o oficial. Na realidade o lobo não comeu ninguém no sentido gastronómico do termo. Avózinha e Capuchinho Vermelho tornaram-se escravas sexuais do animal. E numa sessão mais violenta, que envolvia chicotes e chaves inglesas besuntadas em mel, a gritaria era tanta que atraíu uma equipa de vigorosos lenhadores. É certo que o lobo morreu depois de umas machadadas, mas a vida da avózinha e da Capuchinho Vermelho nunca mais foi a mesma a partir de então. Ainda hoje é grande a fama da cabana da lanterna vermelha no confins do bosque.
1 comentário:
Hahahahahahahahahahahahahahahahahaha!
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