Na sociedade actual o papel da opinião está demasiado valorizado. Ter opinião, hoje em dia, é algo tão necessário como andar vestido. Ir para o emprego em cuecas é a mesma coisa que não ter opinião sobre um assunto qualquer: as pessoas sentem-se despidas e com uma ligeira sensação de frio nas partes baixas (especialmente se estivermos em Janeiro e vivermos na zona da Covilhã, apascentando ovelhas).
Como ninguém se sente à vontade de andar por aí em cuecas (e ainda bem, porque nos poupam um espectáculo verdadeiramente triste na maioria dos casos) toda a gente se sente no dever, e alguns até se sentem no direito, de ter uma opinião e de a esfregar directamente na nossa cara. Voltando à analogia da roupa é como se tirassem as cuecas e as metessem debaixo do nosso nariz. E há cuecas, meus amigos, que não são mesmo flôr que se cheire.
Há alguns anos atrás era raro encontrar alguém com opinião. Os entrevistados na televisão ou não tinham opinião e assumiam-no frontalmente, ou presenteavam-nos com verdadeiras pérolas de sabedoria. Hoje vemos a peixeira do Bolhão exibir com galhardia uma opinião sobre importância dos sons guturais na apanha da ameijoa. E mais incrível: as pessoas ouvem-na!
E depois temos os «opinadores profissionais»: gajos que são pagos para despejar o seu autoclismo intelectual em cima de todos nós. Todos estes gajos me parecem clones do Nuno Rogeiro – o homem que sabe sempre alguma coisa sobre quase tudo.
A profusão de opiniões é tanta que assistimos à categorização da opinião. É como se ter opinião já não bastasse. Tem que se ter uma opinião abalizada, ou uma opinião coerente, ou uma firme opinião, ou uma opinião desinteressada, ou uma opinião controversa, ou vice-versa.
A coisa chegou a um ponto tão ridículo que até as instituíções já têm opinião: a opinião do Governo, a opinião da Comissão de Trabalhadores, a Opinião do Partido, e assim por diante. Ainda ninguém me explicou como é que a opinião institucional é formada: será que é decidida por uns quantos e imposta aos outros de modo coercivo e com requintes de sadismo? Uma coisa é certa – nunca ouvi um funcionário da PT contrariar a opinião da sua empresa, à excepção talvez de um tipo que conheci, que trabalhava na instalação de telefones, e que teve um acidente esquisito (sufocou nos próprios testículos).
Outro fenómeno interessante são os «provocadores de opinião»: quantas vezes não vos pediram a opinião sobre o serviço do hotel onde dormiram? Ou sobre a qualidade de serviço da tripulação do avião onde viajaram? E vocês acham que a vossa opinião alguma vez serviu para alguma coisa? Conseguem imaginar todo o departamento de atendimento da TAP a rir à gargalhada da vossa honesta opinião sobre as sandes congeladas que vos serviram a bordo?
Voltando ao início, acho que a opinião se está a banalizar. Mas isto é só a minha opinião.
quarta-feira, janeiro 25, 2006
A Razão da Opinião
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