É curioso ver como os povos culturalmente próximos dos nossos amigos castelhanos mantêm alguns tiques ancestrais dos seus fundadores. Pessoalmente considero o acto um bocadinho boçal. Não percebo a aversão que os argentinos têm às caixas de reclamações/sugestões.
No entanto este incidente leva-me a pensar no que aconteceria se Portugal tivesse sido conquistado pelos espanhóis. Haveria muita coisa a que atear fogo por aí…
Descontentes com a morosidade e a tendenciosidade da Justiça em Portugal os portugueses queimariam todos os tribunais. Depois, insatisfeitos por estarem a endividarem-se para descontar para um chorrilho de labregos da Função Pública, incendiariam repartições de finanças, notários, escolas e universidades, esquadras de polícia, quartéis dos vários ramos das forças armadas, e ministérios vários.
Desagradados com as despesistas e desviantes políticas autárquicas, incendiariam câmaras municipais, transformando os seus funcionários em verdadeiras tochas humanas. Finalmente, porque não gostariam decerto que o seu primeiro ministro lhes mentisse constantemente, fariam um derradeiro auto de fé na Assembleia da República (não sem antes terem passado por Belém, chateados com os dois pesos e duas medidas do seu Presidente) e queimariam todo o executivo em estacas improvisadas para o efeito. Os jornalistas da TVI a cobrir o evento teriam o mesmo quente destino. As unidades de queimados dos hospitais públicos não teriam mãos a medir: iriam certamente faltar fitas métricas para tanta mão.
Quando acabassem de queimar os motivos do seu descontentamento, os portugueses iriam perceber que todo o país tinha ardido. Felizmente que não deixámos os espanhóis cá entrar. Felizmente que somos um povo civilizado. Assim só queimamos mesmo os nossos parcos e últimos recursos naturais.
quinta-feira, novembro 03, 2005
A Razão do Cheiro a Queimado
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