De vez em quando reparo na influência que a religião tem na nossa língua e nas coisas mais básicas que ela expressa. «Adeus», aquela palavra que usamos vulgarmente para nos despedirmos uns dos outros, é um desses exemplos.
Quando um povo católico se despede a coisa fica carregada daquela inexorabilidade bacoca do reencontro – convém perceber que quando se manda alguém «a Deus» está-se inconscientemente a dizer «vai desta para melhor, meu querido». É que num país católico só vai a Deus quem deixa de existir num plano terreno, ou tratando os bois pelos nomes: quem morre! Podemos sempre acreditar que o sentido não é este, que na pior das hipóteses «adeus» significa «vai ali à casa de Deus». Mas seria rídiculo termos de passar pela igreja mais próxima sempre que nos despedíssemos de alguém. Para além de poder ser perigoso, por corrermos o risco de nunca mais de lá saírmos (a não ser que se evitássemos despedidas dentro das igrejas)
Franceses, Portugueses e Espanhóis (e seus derivados coloniais) usam alegremente esta espécie de maldição sempre que os seus caminhos se bifurcam. Mais valia assumirem a coisa de uma forma consciente e dizerem «vai morrer longe!».
Mas nem todos os povos têm este mau feitio dos católicos. Até os italianos, católicos convictos, se aperceberam do significado do termo e criaram o «Ciao». Também não acho que o «Ciao» seja uma palavra que dignifique a separação, até porque os italianos a usam arbitrariamente, seja para significar «Olá» seja para significar «Adeus» - que é a mesma coisa que dizer que «estares aqui ou estares ali, para mim é a mesma coisa» o que não é uma coisa educada para se dizer a outra pessoa, principalmente se gostarmos dela.
Os ingleses têm uma maneira mais civilizada de se despedirem. Se analisarmos o sentido de «goodbye» veremos que este significa algo do tipo «boa passagem» (que em português correcto seria «passa bem»). É infinitamente melhor do que mandar alguém «desta para melhor» (outra expressão nacional que significa exactamente o contrário daquilo que descreve). «Goodbye» encerra um desejo altruísta - com uma pitada de egocentrismo - de que o outro esteja bem mesmo quando não está perto de nós.
São os alemães que têm a maneira mais simples de despedida. Sem floreados e merdices desnecessárias: «Auf Wiedersehen» significa «até à vista» não tem segundos significados – vou deixar de te ver e portanto até um dia destes em que nos veremos novamente. Sempre é mais agradável do que «Adeus», com tudo o que isso implica.
Pessoalmente gosto da maneira japonesa da despedida, na zona de Tóquio: «Mata ai Masho». Não faço ideia do que significa, mas que soa bem soa.
E agora, se me permitem, vão todos morrer longe. E desenganem-se se acham que este é um post de despedida.
sexta-feira, novembro 25, 2005
A Razão do Adeus
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