terça-feira, outubro 25, 2005

A Razão do Bibelot

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O nosso dia a dia é povoado por centenas de pequenos objectos que, diligente e repetidamente, lá desempenham a função para que foram criados. Existe entre eles uma hierarquia funcional que os distingue uns dos outros e segundo a qual determinamos que um objecto é mais importante que outro, no sentido de nos ser mais ou menos útil.
Na base dessa hierarquia, naquela categoria muito próxima da do bidé, temos o nível mais rasteirinho de objecto: o bibelot.
Embora tenha um nome estrangeirado e armado ao fino, o bibelot faz lembrar aqueles tios e tias de boas famílias, de nomes muito compridos, que decoram as capas de revista de sociedade, mas que não têm utilidade nenhuma. Aquilo que caracteriza o bibelot é exactamente a futilidade de não servir para nada a não ser para decorar um qualquer espaço, estando directamente dependente do mau gosto de quem decora ou de quem o compra.
Talvez por isso o bibelot seja o objecto mais procurado quando não sabemos o que oferecer a alguém. O bibelot não compromete, é um placebo comercial que desculpa a falta de imaginação ou de interesse de quem o compra.
Quando compramos um livro a alguém normalmente temos o cuidado de conciliar o conteúdo do livro com o tipo de pessoa a quem o vamos oferecer. Digamos que é uma compra com algum grau de intimidade. Quando compramos um bibelot estamos perfeitamente nas tintas se a pessoa vai ou não gostar dele, se vai olhar para ele, onde o vai colocar, etc. Sabemos à partida que se a pessoa a quem oferecermos o bibelot não gostar dele vai fazer aquele ar agradecido e grato à nossa frente e quando nos vir pelas costas irá embrulhá-lo cuidadosamente e oferecê-lo a outra pessoa noutra ocasião.
No entanto, apesar da sua inutilidade e perenidade, o bibelot divide-se em várias tipologias onde as mais conhecidas são:

Bibelots Religiosos – onde encontramos uma panóplia de cruzes, de santos, de cristos, e de budas (este último muito famoso nos últimos tempos).

Bibelots Miniaturizados – que vão desde frasquinhos de perfume, a pequenas réplicas em loiça de pratinhos e chaveninhas.

Bibelots do Mundo Animal – onde os mais conhecidos são o belo cavalinho de cristal, ou a colecção de elefantes de tromba para cima, ou ainda o célebre pinguim para o topo do frigorífico.

Bibelots de Exterior – com especial destaque para as duas águias, os dois leões ou os dois dragões a encabeçar os portões da vivenda ou, para um público mais refinado, os célebres anões de loiça em poses de jardinagem.

Bibelots de Design – continuam a não servir para nada, mas dão-se ares de obra de arte em exposição no MOMA.

Bibelots Temáticos – os mais fáceis de comprar quando conhecemos a obsessão da pessoa a quem pretendemos oferecer. Exs: colecções de vacas malhadas, colecção de gatos em todo o tipo de materiais, colecções de pequenos quadros com 842 nós de marinheiro, e assim por diante.

Se um dia tiverem que recorrer à compra de um bibelot, façam-no por uma boa causa: ofereçam-no ao patrão, à sogra, ou aos amigos da onça. Eles vão compreender.

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