Durante muitos anos habituei-me a vê-lo sempre por ali. Sempre que lhe dava uma moeda ele tocava a sineta, com o mesmo entusiasmo. Para mim é como se ele sempre tivesse lá estado – quando nasci já ele era mestrado no toque da sineta, e os adultos falavam dele como se tivesse feito parte também da sua infância.
Os anos passaram e ele deixou de tocar a sineta com a mesma pujança. E nós compreendemos, afinal de contas estava velho e já devia estar farto daquilo. Quando se foi embora, esperámos em vão que fosse substituído por um mais novo que tocasse a sineta com o mesmo fulgôr. Confesso que tinha a esperança que o que viesse a seguir, mais novo, introduzisse algumas inovações e tocasse não uma, mas um conjunto de sinetas. O facto é que não conseguiram arranjar-lhe um substituto. Diziam que os mais novos já não se interessavam pelas sinetas, só queriam mesmo era estar de papo para o ar, sem que ninguém os chateasse. E a coisa foi ficando assim, e eu acabei por me esquecer completamente dele e da sineta. Até à semana passada.
Vi na televisão que o elefante da sineta tinha voltado. Mostraram-no a tentar tocar à sineta, como antigamente, mas tudo aquilo era confrangedor. É que a sineta já não estava lá, mas ele fazia os mesmos gestos, bem mais lentos do que outrora, à espera que alguma coisa tocasse. E a malta disfarçava, fingia que não percebia, e aplaudia o velho e ainda simpático elefante com alzheimer.
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