A sociedade de consumo tem destas coisas, habitua-nos a uma sucessão de marcas e produtos que nos entram diariamente pelos olhos adentro e que desaparecem ao fim de alguns tempos, ao ponto de não nos lembrarmos de que alguma vez existiram.
Felizmente há umas quantas que se mantêm, firmes e hirtas, a resistir à passagem do tempo e à euforia (cada vez mais depressiva) do consumo. E uma delas é o Almanaque Borda D’Água.
Este «reportório útil para toda a gente», como vem descrito na capa, parece ter nascido no tempo de Viriato (quando este andava a atirar calhaus nos Montes Hermínios) e mantém-se orgulhosamente idêntico ao seu primeiro número, publicado há 77 anos atrás, alheio às modernices do papel moderno e da encadernação deluxe, obrigando-nos ao ritual de rasgar as suas páginas para podermos chegar ao conteúdo.
O «Verdadeiro Almanaque Borda D’Água» é uma lição para todas essas marcas multinacionais que por aí aparecem, com investimentos que fariam corar um ministro das finanças. É a lição da persistência teimosa, e do amor desinteressado por aquilo que se faz com gosto. O swoosh da Nike (nome dado pelos especialistas ao vêzinho do logotipo) é uma paneleirice moderna comparada com o Velho da Cartola – o muy digno, e sempre na moda, logotipo do Borda D’Água.
Desfolhar um Borda D’Água é fazer uma viagem no tempo, regressando aos tempos em que os dias demoravam a passar, em que a EDP se via à brocha para fazer dinheiro, em que o IVA era uma realidade tão distante como um episódio do «Star Wars», e em que os dias se contavam, sol a sol, pelas luas.
Havia malta que contava os dias até ao próximo Almanaque Borda D’Água, essa verdadeira enciclopédia de conhecimento que parecia conter tudo o que interessava em meia dúzia de páginas: as previsões do tempo para o ano inteiro, quando preparar a terra para o milho e para a batata de regadio, quando semear amores-perfeitos, a que horas nascia e se punha o sol; ali se aprendia que o dia 17 de Novembro era o dia da Sta. Isabel da Hungria, e que nos primeiros sábados do mês havia feira em Sta. Bárbara de Nexe.
Muito antes dos vendedores ambulantes do Planeta Agostini, já o Borda D’Água andava por aí a ensinar a malta que o signo de Gêmeos transmutava a sensibilidade lunar e que o signo de Virgem tinha como flôr preferencial a camélia (talvez seja daqui que tenha surgido a expressão «para ser virgem é preciso ser camela», tendo-se perdido o «i» algures na imensidão dos tempos).
Felizmente há umas quantas que se mantêm, firmes e hirtas, a resistir à passagem do tempo e à euforia (cada vez mais depressiva) do consumo. E uma delas é o Almanaque Borda D’Água.
Este «reportório útil para toda a gente», como vem descrito na capa, parece ter nascido no tempo de Viriato (quando este andava a atirar calhaus nos Montes Hermínios) e mantém-se orgulhosamente idêntico ao seu primeiro número, publicado há 77 anos atrás, alheio às modernices do papel moderno e da encadernação deluxe, obrigando-nos ao ritual de rasgar as suas páginas para podermos chegar ao conteúdo.
O «Verdadeiro Almanaque Borda D’Água» é uma lição para todas essas marcas multinacionais que por aí aparecem, com investimentos que fariam corar um ministro das finanças. É a lição da persistência teimosa, e do amor desinteressado por aquilo que se faz com gosto. O swoosh da Nike (nome dado pelos especialistas ao vêzinho do logotipo) é uma paneleirice moderna comparada com o Velho da Cartola – o muy digno, e sempre na moda, logotipo do Borda D’Água.
Desfolhar um Borda D’Água é fazer uma viagem no tempo, regressando aos tempos em que os dias demoravam a passar, em que a EDP se via à brocha para fazer dinheiro, em que o IVA era uma realidade tão distante como um episódio do «Star Wars», e em que os dias se contavam, sol a sol, pelas luas.
Havia malta que contava os dias até ao próximo Almanaque Borda D’Água, essa verdadeira enciclopédia de conhecimento que parecia conter tudo o que interessava em meia dúzia de páginas: as previsões do tempo para o ano inteiro, quando preparar a terra para o milho e para a batata de regadio, quando semear amores-perfeitos, a que horas nascia e se punha o sol; ali se aprendia que o dia 17 de Novembro era o dia da Sta. Isabel da Hungria, e que nos primeiros sábados do mês havia feira em Sta. Bárbara de Nexe.
Muito antes dos vendedores ambulantes do Planeta Agostini, já o Borda D’Água andava por aí a ensinar a malta que o signo de Gêmeos transmutava a sensibilidade lunar e que o signo de Virgem tinha como flôr preferencial a camélia (talvez seja daqui que tenha surgido a expressão «para ser virgem é preciso ser camela», tendo-se perdido o «i» algures na imensidão dos tempos).
Sempre que olho para o Borda D’Água vejo um grupo de velhotes a escreverem que nem uns desalmados, já meio taralhocos, a embirrarem uns com os outros, mas a divertirem-se que nem uns perdidos ano após ano. Um blog à moda antiga, este Borda D’Água.
1 comentário:
Pois sempre saiem ainda respostas da cartola, quando as vozes que lhe chegam merecem que se tire o chapéu e se saúde alguem que ainda se lembra que há Viriato e uma tradição que se transmite por velhos, maduros e novos, capaz de aquecer a alma e indicar ós movimentso e estações das luminares que nos influenciam com seus benéficos eflúvios.
Um bom ano de 2006, são os desejos doBorda d'Água para si
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