Há 230.000 anos atrás habitou neste planeta uma espécie hominídea designada por neanderthal. Pelo nome poderia deduzir-se que era alemão, mas não (se bem que quando olho para os alemães me vem à cabeça o neanderthal), só se chama assim porque o primeiro fóssil deste espécime foi encontrado na região de Neanderthal, perto de Dusseldorf. Os Neanderthais tinham uma vida lixada: vestiam-se com peles de animais, viviam em condições precárias, não tinham canalização, as hipóteses de carreira eram diminutas (principalmente depois de terem chegado os Cromagnons) mas ainda assim os neanderthais não tinham stress. Não existem registos de um neanderthal stressado.
Viriato, um pastor dos Montes Hermínios, que ficou conhecido entre as legiões romanas como o Che Guevara lusitano, fez a vida negra ao Império Romano utilizando um tipo de combate que na altura se chamava “toca e foge” (hoje chama-se “guerrilha”) não se conhecendo quaisquer sintomas de stress. É certo que se enervava de vez em quando, mas nada que uns murros no tampo da mesa não resolvessem.
Afonso Henriques, conhecido por arrear na mãe à grande e à francesa (na bela tradição borgonhesa herdada de seu pai) também não tinha stress. Ao mínimo sintoma de ansiedade montava no seu cavalo e ia fundar. Fundar, naquele tempo, era sinónimo de andar à porrada com os mouros.
O stress é um sintoma que parece ausente da nossa história. Inexplicavelmente. Seria de supôr que embarcar numa casquinha de noz em direcção ao nada durante meses criasse stress; ou defender um império numa altura em que o total da população não excedia o milhão e meio de pessoas: os poucos gajos que ficavam a defender os postos avançados em África, na Índia ou no Brasil contra os ataques dos holandeses, dos espanhóis ou dos corsários ingleses, deveriam ter um bocadinho de stress. Mas não. Stress foi coisa de que nunca se ouviu falar. Por tudo isto é que fico surpreendido que hoje em dia se fique com stress à mínima contrariedade: perdi o autocarro – stress; não consegui apresentar o trabalho a horas – stress; tenho o telefone a tocar de minuto a minuto – stress; tenho uma turma de meninos irrequietos – stress; apetece-me fumar um cigarro no avião – stress; mas que paneleirice é esta? Está tudo com falta de problemas? Querem lá ver que tenho que me stressar?
1 comentário:
Isso por acaso ate tem razao de ser: os neandratals caçavam animais selvagens com as maos e alguns paus, Viriato foi a guerra com pedras, Afonso Henriques cortava gente com espada, do topo do cavalo dele... o factor violento esta sempre la no meio.
Mas agora tudo e muito mais "civilizado", ja se discute com palavras em vez de socos,ha stess!!!
Entao, podemos afirmar que stress e so um efeito secundario de falta de dar a alguem um bom arreal de purrada.
A prova disso e que nao existe em lado nenhum um lutador de boxe decente com ponta de stress.
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