quarta-feira, abril 20, 2005

A Razão Papável

papavel

Vi há uns dias na SIC os resultados de uma sondagem onde perguntavam aos telespectadores portugueses que nacionalidade é que estes achavam que o novo Papa devia ter. Surpresa das surpresas, a nacionalidade portuguesa foi a escolha de 82% dos telespectadores. Para uma sondagem imbecil temos aqui um resultado idiota. Porque raio existem 18% de inquiridos que não querem um Papa luso? Será porque desconfiam tanto do poder de gestão dos conterrâneos que nem para gerir as alminhas dão uma abébia a um tuga?
Seja como fôr acho que os portugueses são recorrentemente chamados a pronunciar-se sobre tudo e mais alguma coisa. E o pior de tudo é que se pronunciam mesmo, sem pudores, sobre os assuntos mais estúpidos: deverá o primeiro-ministro morar em S.Bento ou continuar a viver na sua casa? Deverá o presidente ingerir na governação do país a seu bel prazer e fazer jogadas políticas manhosas? Deverá o Mourinho vir treinar a selecção portuguesa antes ou depois do desaire do próximo Mundial? Deverá haver um próximo Mundial?
Por mais inconsequente que seja a sondagem, lá estão os portugueses a votar como se não houvesse amanhã, completa e boçalmentemente alheios à quantidade de dinheiro que gastam nos sms de resposta, e cientes que, qualquer que seja a conclusão da sondagem, a sua opinião não servirá para coisa nenhuma.
O que é estranho é não ver este empenho opinativo em situações em que a sua opinião pode mudar o curso das coisas: vejam-se as eleições legislativas e a quantidade de gente que se abstem de ir às urnas, vejam-se as eleições autárquicas com uma abstenção superior às anteriores, e mais grave, vejam-se os referendos nacionais e a fraca participação que estes têm. Na realidade os portugueses não querem sentir-se responsáveis. Votar em sondagens bacocas é porreiro porque dali não há-de vir mal nenhum ao mundo. Votar em coisas que podem mudar o estado das coisas é que não pode ser! Livra! Imaginem que a coisa dá certo? Os portugueses vão queixar-se de quê?

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