Não existem razões funcionais para que um automóvel mude de forma constantemente. Obedecendo ao princípio de que a forma está subjugada à função, cada Chrysler era fabricado com um tecto alto, de modo a que se pudesse usar chapéu enquanto se conduzia. Naquele tempo as pessoas finas usavam chapéu. Resistindo à tendência de comercializar automóveis mais rasteirinhos e esguios, o patrão da Chrysler chegou a afirmar que "fabricava carros para as pessoas se sentarem neles, e não para mijarem em cima deles" (sic). A Chrysler quase faliu por ter ficado fora de moda.
A moda, como sabem, é algo que rapidamente fica fora de moda. É uma atracção efémera por um estilo particular, numa altura específica, por um determinado número de pessoas. É uma atracção deliberadamente criada com intuitos comerciais por seres inexplicavelmente perversos, à semelhança daqueles milhares de chineses que decidiram usar aquelas batas Mao Tse Tung do avesso.
Os autores de Recueil de Décorations Intérieures, uma obra escrita durante a Revolução Industrial, queixavam-se que a moda era ditada pela produção em massa agravada por uma obsolescência compulsiva - um efeito atribuído à comercialização selvática a que já nos habituamos. Mais recentemente, numa feira de mobiliário em Milão, um dos participantes anunciou pomposamente o lançamento de um novo modelo de cadeira: "uma cadeira onde nos podemos sentar!" E depois desatou a elaborar "... alusiva de uma forma tipologicamente tradicional, esta cadeira é um objecto hermeticamente concebido como um símbolo profundamente enraízado no nosso passado".
Esta malta droga-se... Mas inequivocamente a moda torna-nos prisioneiros de um estilo e de uma época, numa espécie de vida suspensa tranquilizadora, e sem os sobressaltos de termos que penosamente decidir o que vamos vestir amanhã.
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