De tempos a tempos Portugal aparece mencionado numa daquelas estatísticas da comunidade europeia que comparam os índices de produtividade dos Estados Membros. Inevitavelmente ocupamos um lugar cimeiro no pelotão dos mais improdutivos. O que torna os portugueses o povo mais improdutivo da Europa? Será a nossa proximidade do Norte de África? (provavelmente seríamos os mais produtivos do Norte de África!) Será por sermos arraçados de árabes? Ou apenas porque somos uns madraços incorrigíveis?
Eu tenho uma perspectiva bastante clara sobre este défice nacional de produtividade: o problema reside no empresário português, esse mamífero que consiste num enxerto de comerciante de feira com um MBA no levantamento do copo. Por mais esforçado que seja, o trabalhador português não consegue contrariar a chusma de disparates cometidos pelo empresário tuga que lhe paga (até ver) o ordenado. E o que torna o empresário português uma verdadeira pérola da gestão de mercearia? Eis algumas características fundamentais:
O empresário tuga não tem empregados, tem filhos. Os seus colaboradores são tratados como a sua prole – com berraria, chapadas, castigos, e chorudas recompensas. Exige-se portanto um respeitinho que é muito bonito, porque senão dá-se-lhes um par de galhetas e não se facilita aquele chequezinho não declarado no fim do mês.
O tuga empresário não tem objectivos estratégicos mais profundos do que um copo de tintol meio cheio. Parafraseando um empresário tuga que tive o prazer de ouvir uma vez: “a estratégia é não ter estratégia!” (deviam ver a cara de anormal que ele colocou a dizer isto, a esforçar um ar de intelijumência).
Para o tuga empresário os objectivos são metas que escarrapacham aos olhos de toda a gente o quão incompetente ele é na gestão do seu negócio. Portanto é melhor que não se fale muito nisso. Para qualquer empresário tuga o objectivo é ganhar o mais possível, pagar o menos possível, fazendo o menos aconselhável.
O empresário tuga nunca tem lucro. Tem sempre um prejuízo do caraças, nem que para isso que tenha fazer umas lavagenzitas por uns países africanos de nomes impronunciáveis. Ter lucro significa ter que dar dinheiro ao Estado, e isso é considerado contra-natura. “Prefiro cagar um pé todo até ao pescoço” é normalmente a sua postura oficial quanto a esta questão.
O escritório do empresário tuga é a mesa do restaurante por volta das 17:00h, depois dos aperitivos, do petisco, do prato principal regado com um bom tinto, do segundo prato principal acompanhado com outro tinto, do terceiro prato principal com vinho a condizer, das diferentes sobremesas, e de alguns penalties de buísque ou de vagaceira, do charuto da República Dominicana, e de sete cafés. Completamente atafulhado de comida e com uma taxa de alcoolémia que embebeda qualquer ser vivo num perímetro de duzentos metros, o tuga discute negócios nos 10 minutos que antecedem a sua saída ziguezagueante do tasco.
O tuga empresário é fisicamente diminuído: gordo que nem um porco, com a barriga a resvalar-lhe para os joelhos e a suster uma gravata que parece uma rampa de lançamento das suas aleivosias abrutalhadas. Não pratica qualquer tipo de desporto. O colesterol entope-lhe as “beias caragu”. E está permanentemente sujeito a um enfarte que faça surgir o seu sucessor natural: o seu filho retardado, ou outro javardolas aciganado e sem a mínima noção do que é um P&L.
O tuga empresário confunde política de incentivos com entradas-livre no bar de alterne mais próximo. Motivação para ele significa montar um apartamento à São, a sua secretária.
Portanto quando voltarem a ouvir falar da pouca produtividade deste país, não levem a mal os trabalhadores portugueses. Esses coitados não têm culpa dos exemplos que vêm de cima.
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