Portugal é o único país no mundo onde o principal objectivo de conduzir um automóvel não consiste no simples deslocar de A para B. A função do automóvel em território nacional extravasa os simples e originais desígnios do chegar mais rápido a qualquer sítio (se bem que os portugueses também sejam exímios nisto, a julgar pela quantidade absurda de acidentes por excesso de velocidade, que em português significa falta de lentidão). Para os portugueses a condução é, acima de tudo, uma terapia para aliviar tensões, debelar ansiedades, resolver depressões, insultando furiosamente outros portugueses, com a vantagem óbvia de ao mesmo tempo conseguirem chegar mais rápido ao seu destino. O tuga mais calmo e pacato do mundo tranforma-se num javardolas alucinado dentro do seu automóvel, correndo a palavrão e buzinadela todos os seres vivos que se atravessem no seu caminho. No caminho matinal para o trabalho divirto-me normalmente a olhar para dentro dos automóveis que invariavelmente contêm no seu interior mamíferos fora de si, numa fronteira esquisita entre o assassínio de massas e a histeria compulsiva. A situação é tão peculiarmente nacional que alguns fabricantes de automóveis estão neste momento a testar modelos específicos para o mercado português: automóveis equipados com megafones multidireccionais que o condutor poderá apontar directamente para a sua vítima, berrando os impropérios habituais, em estereofonia e com um nível decibélico capaz de acordar um cachalote estremunhado. Haja razão, senhoras e senhores!
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