segunda-feira, janeiro 31, 2005

As Razões da Vida

life
Senhoras e Senhores,

Usem filtro solar. Se eu pudesse dar-vos apenas um conselho para o vosso futuro, seria este: usem filtro solar. Os benefícios a longo prazo do uso de filtro solar estão cientificamente provados. Os restantes conselhos que aqui darei baseiam-se exclusivamente na minha experiência pessoal. E aqui vão eles:
Desfrutem do poder e da beleza da vossa juventude. Ou melhor, esqueçam, porque só vão compreender o poder e a beleza da vossa juventude, quando estes já tiverem desaparecido. Mas acreditem numa coisa: daqui a vinte anos, vocês vão olhar para as vossas velhas fotografias e compreender, de uma maneira que não compreendem agora, quantas oportunidades tiveram, e o quão verdadeiramente maravilhosos vocês eram.
Atenção: vocês não são hoje tão gordos como imaginam ser.
Não se preocupem com o vosso futuro. Ou, se quiserem, preocupem-se sabendo de antemão que essa preocupação é tão eficaz como tentar resolver uma equação de álgebra enquanto se mastiga pastilha elástica. É quase certo que os problemas que realmente terão importância na vossa vida, serão aqueles que nunca vos passaram pela cabeça, do estilo daqueles problemas que vocês se lembram às 4 da tarde de uma qualquer terça-feira ociosa.
Façam, todos os dias, pelo menos uma coisa que vos assuste. Cantem. Não tratem os sentimentos alheios de uma forma irresponsável. Não tolerem quem trate os vossos sentimentos de forma irresponsável. Relaxem. Não percam tempo com a inveja. Algumas vezes vocês ganham, outras vezes vocês perdem. A corrida é longa, e no final só podem contar com vós próprios.
Lembrem-se bem dos elogios que recebem. Esqueçam os insultos (se conseguirem isto, expliquem-me como se faz).
Guardem as vossas velhas cartas de amor. Atirem fora os vossos velhos extractos bancários. Façam alongamentos. Não se sintam culpados se não souberem muito bem o que pretendem da vida. A maior parte das pessoas interessantes que conheço não tinham, aos 22 anos, nenhuma ideia do que fariam na vida. E algumas das pessoas interessantes de 40 anos que conheço, ainda não sabem.
Comam imensas coisas com cálcio. Sejam gentis com os vossos joelhos: vocês vão sentir falta quando eles deixarem de funcionar.
Talvez vocês se casem, talvez não; talvez tenham filhos, talvez não; talvez se divorciem aos 40, talvez dancem a conga quando fizerem 75 anos de casados. O que quer que façam, não se orgulhem nem se auto-critiquem demasiado. Todas as vossas escolhas têm 50% de hipóteses de dar certo, assim como as escolhas de toda a gente.
Curtam o vosso corpo da melhor maneira que puderem; não tenham medo dele, ou do que as outras pessoas pensem dele – o vosso corpo é o vosso maior instrumento. Dancem, mesmo que o único lugar que tenham para dançar seja a vossa sala de jantar.
Leiam todas as instruções, mesmo que não as sigam. Não leiam revistas de beleza: só vos fazem sentir feios.
Aprendam a conhecer os vossos pais – vocês não fazem ideia as saudades que vão ter quando eles já não estiverem cá. Sejam simpáticos com os vossos irmãos, eles são o vosso maior vínculo com o passado, e aqueles que, no futuro, provavelmente não vos vão deixar pendurados.
Entendam que as amizades chegam e partem, mas que há um punhado precioso delas, que vocês têm que guardar com carinho. Viajem. Aceitem certas verdades universais: os preços vão sempre subir; os políticos serão sempre desonestos; vocês também vão envelhecer. E quando vocês envelhecerem vão fantasiar que, quando eram jovens, os preços eram acessíveis; os políticos eram nobres de espírito; e as crianças respeitavam os mais velhos. Respeitem os mais velhos.
Não esperem apoio de ninguém. Talvez vocês venham a ter uma reforma choruda. Talvez casem com alguém rico. Mas nunca saberão quando um ou outro podem desaparecer.
Não estraguem muito o vosso cabelo, porque senão quando tiverem 40 vão parecer ter 85. Tenham cuidado com as pessoas que vos dão conselhos, mas sejam pacientes com elas. Conselhos são uma forma de nostalgia. Dar conselhos é uma forma de resgatar o passado que está numa lata de lixo, limpá-lo e esconder as partes feias, reciclando-o por um preço maior do que realmente ele vale.
Mas acreditem em mim quando vos falo do filtro solar.

Mary Schimich, publicado no Chicago Tribune, 1997

sexta-feira, janeiro 28, 2005

A Razão do Sentido de Humor

humor
Para assinalar o segundo mês de existência deste blog, vou escrever sobre uma característica notável da espécie humana que é a capacidade de se rir de si própria e daquilo que a rodeia. Chama-se sentido de humor, e é um dos placebos mais eficazes da nossa existência: está cientificamente provado que uma boa gargalhada diária aumenta a longevidade, alivia tensões e torna-nos, nem que seja por instantes, pessoas mais felizes. Existem vários tipos de humor, desde o mais básico ao mais requintado, mas o sentido de humor é algo transversal a todos os humores - quem o tem, esboçará pelo menos um leve sorriso quando confrontado com um dos vários géneros de humor. Infelizmente há por aí muito mamífero baboso desprovido de sentido de humor. Lamentavelmente para eles que, por mais que se esforcem, vêem tudo à luz da sua realidade e personalidade limitada e desinteressante, sem uma única pontinha de humor. Este post é dedicado a eles, a esses seres merecedores de uma tribo de somalis que lhes animassem o dia. Se algum de vocês está por aqui a ler isto, um conselho: vão dar sangue suas bestas! - pode não ter piada nenhuma mas ao menos estão contribuir para aumentar a longevidade de alguém.

quinta-feira, janeiro 27, 2005

A Razão dos Nomes

fish

Na sua origem, os nomes tinham um significado e eram atribuídos em função da sua carga significativa, acreditando-se então que esta carga se transportaria para a personalidade da pessoa que o ostentasse. Quem usasse o nome de Elisabete seria uma pessoa extremamente activa, persistente e com grande força de vontade, que alcançaria sempre os objectivos a que se propunha. Os Júlios (que em latim significa “cheios de juventude”) seriam inevitavelmente pessoas de memória prodigiosa, muito organizadas, com um dinamismo contagiante, e assim por diante.
Depois começou também a atribuir-se um nome que evocasse alguém bem sucedido numa área específica: a conquistar, a fundar, a descobrir, a desbastar, a emborcar inúmeros shots de vodka, etc.
Um dia, um casal de inconscientes olhou para a sua criança recém-nascida e procurou na sua cara um nome que lhe fizesse jus. Ao fim da vigésima terceira tentativa decidiram chamar-lhe José: o nome de um corno manso que achou que a sua mulher tinha emprenhado de um anjo. Mas o difícil foi mesmo o apelido: por mais que olhassem para a criança não lhes ocorria nada - a criatura tinha um olhar bovino e totalmente desprovido de inteligência. Então o pai lembrou-se daquele gajo que elaborava que nem um doido (e que nutria uma especial preferência por meninos), e deram-lhe o apelido de Sócrates. Podia ser que se safasse...

quarta-feira, janeiro 26, 2005

A Razão do Remedianço

remedianco

Se há uma característica predominante na cultura nacional, a par da inveja (ver Razão Feia, a Inveja), é o facto de sermos um povo remediado. Não confundir com desenrascado - desenrascar é arranjar uma solução que resolve perfeitamente um problema para o qual não estávamos apetrechados para resolver. Remediar é arranjar uma solução que sabemos ser precária para resolver um dado problema. Os portugueses falam muito na arte do desenrascanço, chamando a si a sua paternidade, mas na realidade os brasileiros é que são os desenrascados, nós somos apenas uns gajos remediados.
O remediado é um enrascado a tentar safar-se o melhor que puder, com a certeza inicial de que tudo o que consiga obter será sempre insatisfatório.
Na boa tradição nacional os portugueses preparam-se paulatinamente para remediar um governo para este país. O governo será formado por uns gajos remediados que tentarão, mais uma vez, remediar o país com a certeza que por mais que façam, o resultado final será sempre uma merda. Que se lixe, daqui a quatro anos cá estarão outros para remediar o que os próximos fizerem. Entretanto, vamo-nos remediando com o que temos.


terça-feira, janeiro 25, 2005

A Razão do Professor

profe
Ao fim de tantas reformas de ensino ainda não perceberam que o que deviam reformar, perpétua e drasticamente, eram os professores. Está provado que na sua génese, o professor é aquele tipo de pessoa que não tem jeito nem talento para fazer coisa nenhuma, e que consequentemente decide passar o resto da vida a falar do que os outros fizeram. Enfim, um javardola pouco imaginativo. Senão vejamos: a sua capacidade de concentração atinge o limite ao fim de cada 50 minutos, findos os quais tem que ir a correr para um reduto (vulgo, sala dos professores) de forma a certificar-se que existem seres com o mesmo miserável destino e poder aguentar os próximos 50 minutos. Também não é por acaso que o professor representa a classe humana mais pavloviana que existe: só se mexe quando toca a sineta, e saliva que nem um animal (todos nós nos lembramos dos perdigotos que apanhávamos quando por azar ficávamos na carteira da frente). Depois é um ser que não aguenta os mesmos meses de actividade que outro qualquer trabalhador – embora diga que está atafulhado de reuniões, sabemos bem que, na realidade, está na taberna mais próxima a decidir o aproveitamento das suas vítimas entre copos entremeados de tinto e branco, conforme o seu estado de humor. E que dizer de um ser cuja função consiste em pegar num pedaço de giz que esfrega freneticamente numa ardósia negra e que tem como ponto alto mensal a reunião de pais? Nada, suponho. O facto de a maioria deles nunca saber onde vai ser colocado no país dá-lhes um modus vivendi cigano que se reflecte na maneira como instruem as suas vítimas: tudo é transitório (até a inteligência do próprio professor), e nada é dado como certo (nem a roupa interior que se vestiu no próprio dia). Outra coisa curiosa é que os professores nunca têm identidade própria: ou são prófes, ou setôres. Quais as implicações de tudo isto? Não faço a mínima ideia, agora uma coisa é certa: se porventura depararem com um blog feito por um professor façam apenas uma pergunta: oh professor, posso ir um bocadinho lá fora?

segunda-feira, janeiro 24, 2005

Razões Abstencionistas

abstenc

Li há dias num jornal diário nacional as primeiras projecções para as eleições de Fevereiro. Não pude deixar de reparar que estas apontavam para 42% de abstenção. Significa isto que, na altura de escolher os destinos políticos, económicos e sociais deste país, existe 42% da população que se está perfeitamente nas tintas. E depois queixem-se…

Estamos ainda na vigência do 25ºaniversário do 25 de Abril de 1974, altura em que meia dúzia de inspirados capitães se asseguraram que os mamíferos que assentavam arraiais neste país, pudessem escolher livremente os destinos da nação e não estar subjugados a um partido único, a uma única ideologia, a uma única vontade. Antes dos capitães, e durante 48 anos, centenas de portugueses morreram a lutar para que um dia o país pudesse, entre outras coisas, ter a liberdade de votar. E o que aconteceu 25 anos depois? Aparecem 42% de alimárias babosas que afirmam descaradamente que se vão abster.

Já tinha falado anteriormente sobre o quanto me exasperam os indecisos que pululam em qualquer sondagem realizada em território nacional (ver A Razão dos Indecisos), mas os abstencionistas provocam-me um asco indiscrítivel. Estes sacanóides abstencionistas são, na realidade, uns indecisos armados em finos. Não votam porque consideram que nenhuma das propostas políticas existentes contém os requisitos necessários para levar a bom porto este país:

- Porque o candidato A é um demagogo alucinado que muda de ideias, de mulheres, e de membros de governo em cada 15 minutos, não garantindo a estabilidade necessária para iniciar a recuperação do país.

- Porque o candidato B é um invertebrado sem uma única ideia, e de orientação sexual escumbalhada na imprensa estrangeira, que teve a sorte de estar à frente do seu partido quando o Governo andou a alucinar durante os 4 meses que o deixaram desgovernar.

- Porque o candidato C é uma prima dona efeminada e envolvida em escândalos de corrupção e outros, que faz das jogadas palacianas um modo de vida, qual senhorinha com cio à procura de alguém que a cubra.

- Porque o candidato D parece ter saído de um arquivo histórico da RTP, com um discurso que só não é ridículo porque chega a ser divertido como discurso de época.

- Porque o candidato E tem uma cartilha política inspirada no Animal Farm do Orwell, o que constitui um problema para a malta que vive na zona da Covilhã, que virá certamente a tornar-se o Gulag deste país, caso este candidato seja eleito.

Eu só tenho uma coisa a dizer às amibas abstencionistas: sejam quais forem as razões que os levam, confortavelmente, a não tomar qualquer posição política nas próximas eleições, lembrem-se que só têm essa opção porque algures na nossa história existiram gajos que sofreram e morreram para que vocês pudessem estar de cuzinho alapado a ver outros votarem. Portanto se querem demonstrar que não estão satisfeitos com nenhuma das hipóteses disponíveis, levantem o cuzinho, vão à mesa de voto, e votem em branco. O voto em branco significa que nenhum daqueles babacas é, na vossa opinião, uma solução para o país.

sexta-feira, janeiro 21, 2005

A Razão de Waldo

wally
Algures no início dos anos 90, Martin Handford inventou uma maneira de ganhar dinheiro a partir de uma personagem chamada Waldo. Com um ar de geek gay, gorro na cabeça, uns óculos redondos de massa e um pullover às riscas vermelhas, Waldo era um zé ninguém solitário que desaparecia facilmente na multidão. Era exactamente essa a função desta personagem: passar despercebido numa multidão de centenas de outras personagens em varíadissimos ambientes diferentes. Os livros da série «Onde está Waldo?», que levavam quem os lia ao desespero de nunca encontrar o maldito boneco com ar de tótó, venderam que nem ginjas para um dia seguirem o exemplo da personagem e desaparecerem de vez. O anonimato recorrente de Waldo foi substituído pela febre de celebridade, que consiste exactamente em estar bem visível e em todo o lado (assim tipo Cinha Jardim, que até consegue por vezes aparecer na minha cama - não sei como é que a gaja consegue fazer aquilo).
Tal como o Waldo nos seus tempos áureos houve uma série de personagens que desapareceram de fininho do nosso dia a dia, vítimas da mudança dos tempos. De tal modo que apetece perguntar:
- Onde está o José Cid?
- Onde estão as Doce?
- Onde estão os yuppies?
- Onde está a maioria absoluta do PSD?
- Onde está o Pedro Caldeira?
- Onde está a Madalena Iglésias?
- Onde está o Ramalho Eanes?
- Onde está o Mário Mata?
- Onde está Portugal?
- Onde está o Sr. Albano? (este desconfio que esteja a morar com aquela tribo de somalis que eu um dia lhe mandei)
Quem quiser saber onde está o Waldo pode sempre visitar este site e tentar, pela última vez, descobrir o gajo no meio da habitual multidão. Vão ter que se esforçar um bocadinho, mas vão acabar por encontrá-lo, incógnito, sózinho, e com a mesmíssima cara de estúpido. Boa caçada!

quinta-feira, janeiro 20, 2005

A Razão dos Taxistas

taxi

Filósofos da era moderna; psicológos da bandeirada; treinadores sem equipa; analistas políticos motorizados; contadores de histórias; donos de todas as verdades, absolutas ou não, os taxistas são uns gajos especiais.
Por breves instantes são senhores dos destinos das pessoas que lhes entram pelo taxi adentro em direcção a qualquer lado. Na realidade os taxistas não têm clientes, têm audiência. A duração da bandeirada é o seu palco e eles sabem-no. Nós só precisamos de lhes dar o mote: “que tempo do caraças, nunca mais chove” ou “isto está tudo entregue à bicharada”, ou ainda “se estivéssemos no estrangeiro isto levava outro rumo”. Tal como um actor à espera de uma deixa, o taxista vai por ali fora e discorre sobre tudo o que lhe apetece, ajudado pelos nossos “han han” em cada 30 segundos. Já alguma vez um taxista proferiu a frase “eu não sei nada disso”? Claro que não. O taxista faz questão de ter uma opinião sobre tudo, é uma espécie de Pacheco Pereira ou de Nuno Rogeiro de volante na mão, com a vantagem de não termos de entrar no Abrupto ou de ligar a televisão.
Paralelamente a esta capacidade opinativa inata e imparável os taxistas são os verdadeiros heróis do stress: um gajo que consegue estar enfiado dentro de um carro um dia inteiro a conduzir numa cidade cheia de trânsito, e a levar com os diferentes humores dos mamíferos que por lá passam sem se transformar num assassino de massas, é um verdadeiro virtuoso a lidar com o stress.
De vez em quando decido deixar o carro à porta de casa e apanho um taxi para o meu destino. Invariavelmente, depois de lhe dizer para onde quero ir e de me recostar confortavelmente no banco de trás, deixo sair em tom de desabafo: “Isto merecia era outro Salazar!”. As respostas são sempre surpreendentes, e enriquecem qualquer percurso. Da próxima vez que apanharem um taxi, experimentem este desabafo. Não se vão arrepender, garanto-vos.

quarta-feira, janeiro 19, 2005

Razões Públicas

fpublica
As empresas públicas e os serviços públicos nacionais andam equívocados. Só pode ser isso. Não me ocorre nenhum país europeu onde o funcionalismo público acha que existe para diariamente fazer um imenso favor aos seus utentes. Curiosamente essa é a postura comercial das empresas e serviços do Estado.
Quantas vezes é que tiveram que esperar eternamente numa fila de um qualquer balcão de atendimento dum serviço público para, chegada a vossa vez, levarem com a má disposição de um funcionário público de ar bovino e cabelo empastado? Vezes demais provavelmente...
Quantas vezes ligaram para a linha de atendimento de uma empresa pública e se sentiram autênticas bolas de ping pong a correr todas as operadoras de um call center manhoso? Vezes incontáveis, suponho.
A razão de existência destas empresas e serviços não é, como seria normal deduzir-se, dar emprego a um monte de bandalhos retardados cuja única noção de carreira consiste em subir de letra a letra, estilo abecedário. A verdadeira razão desta incompetência atávica tem como objectivo final a manutenção do status quo, afastando qualquer pessoa que remotamente pense em tornar qualquer processo mais rápido, mais eficaz ou mais útil. Desmotivando o recrutamento de indivíduos competentes, o funcionalismo público assegura a sua sobrevivência mantendo no activo, até começarem a cheirar a podre, aquelas senhoras e senhores que se arrastam penosamente, qual zombies, no interior das repartições públicas por este país fora.

terça-feira, janeiro 18, 2005

Razões Porno-Eróticas

nudes
Acho piada à distinção entre o pornográfico e o erótico. Cada vez mais me convenço que a diferença é apenas uma questão de forma: o erótico é um pornógrafo com punhos de renda. O erotismo é a pornografia travestida e apaneleirada que tem como base a sugestão e nunca a evidência.
No cinema, quando estamos perante uma imagem de uma rapariga desnuda (onde o plano não desce abaixo das mamocas), gemendo baixinho entre movimentos ascendentes e descendentes, estamos perante um filme erótico; se a mesma rapariga nos aparecer a montar vigorosamente um visível falo, gritando «mete-mo todo!», estamos perante um filme pornográfico. Se um pintor retrata uma mulher totalmente desprovida de qualquer indumentária, deitada de costas numa pose sensual estamos perante «uma obra que transpira erotismo e sensualidade»; se o mesmo pintor retratar a mesma mulher despida, virada para nós, exibindo ostensivamente o clitóris, estamos perante um porco, tarado sexual e javardo, que merece uma valente voltagem nos testículos. Que hipocrisia...
O erotismo é a forma que a nossa sociedade arranjou para poder extravasar as suas compulsões voyeuristicas em relação ao sexo, tornando-as aceitáveis aos olhos uns dos outros. Portanto façam o favor de não se fazerem esquisitos quando forem apanhados a ver o canal 18 às escondidas. Ajam naturalmente, mas coíbam-se de comentar com um ar impressionado a elasticidade necessária para empreender com sucesso aquela posição.

segunda-feira, janeiro 17, 2005

Razões Contemporâneas

contemporaneas

O país perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada, os carácteres corrompidos. A prática da vida tem por única direcção a conveniência. Não há princípio que não seja desmentido. Não há instituição que não seja escarnecida. Ninguém se respeita. Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Ninguém crê na honestidade dos homens públicos. Alguns agiotas felizes exploram. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente. O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo. A certeza deste rebaixamento invadiu todas as consciências.
Diz-se por toda a parte: o país está perdido!

Isto foi escrito em 1871 por Eça de Queirós. Desde então a malta não aprendeu nada???

sexta-feira, janeiro 14, 2005

Razões Depressivas

pills
Que a malta é o povo mais deprimido do planeta já foi dito no post anterior. Mas agora a coisa parece que vai dar para o torto com a recente descoberta de que o Prozac afinal, para além de alegrar a malta, tem uns efeitos secundários maléficos que conduzem a um comportamento violento e/ou suicida, dependendo dos indivíduos e do facto de terem usado roupa interior apertada enquanto faziam o "tratamento" à base de fluoxetina.

Está tudo explicado. Há uma inequívoca ligação entre esta Razão e a Razão da Condução.

Uma vez que somos os maiores consumidores de anti-depressivos, e que nesta classe terapêutica o que mais vende é o Prozac, então é lícito deduzir que este país deprimido e dopado, que simpaticamente se define como um grupinho de brandos costumes, venha a tornar-se o povo mais violento e suicida do planeta, ombreando orgulhosamente com os sul americanos e os suecos, nestas diferentes categorias. Porrada neles!

quinta-feira, janeiro 13, 2005

A Razão do Futebol

futebol

A fechar a nossa trilogia nacional dos F's vem o Futebol, que actualmente é o F mais activo do país (se excluirmos o "foda-se pra isto" que gritamos diariamente quando lemos os jornais ou ligamos a TVI).
A culpa deste F ter um peso indiscritivelmente gigantesco na vida deste país é do tal ditador inteligente e pouco virtuoso referido no post anterior e de um rapaz menos inteligente mas mais virtuoso chamado Eusébio. Estes dois gajos fizeram o país inteiro acreditar que era alguma coisa de jeito, algures em 1966. É claro que nada aconteceu e o país mergulhou mais uma vez numa profunda e melancólica depressão, cantando o Fado, e esperando que num dia nevoeiro surjam 11 gajos com jeitinho nos pés que dêem uma razão de existência a esta nação. Não somos muitos exigentes...contentamo-nos com o ganhar uma finalzinha de futebol para ficarmos aconchegadamente orgulhosos de nós próprios. Enquanto isso não acontece, seja porque os gregos não sabem jogar Futebol, seja porque o Scolari é brasileiro, vamos ficando por aqui deprimidinhos a pensar no grande país que poderíamos ter sido.
Viva o Futebol!

quarta-feira, janeiro 12, 2005

A Razão de Fátima

3pastorinhos

Em segundo lugar na nossa trilogia nacional, coladinha ao Fado, vem Fátima - a prova cabal que somos um país de crentes ingénuos que não aprendemos nada com o tipo que nos fundou (ver Razões Nacionalistas).
Algures em Maio de 1917, num prado verdejante perto de Fátima, três criancinhas apascentavam um rebanho de cabras quando uma delas descobre uma cultura estranha de cogumelos. Comida era coisa que não abundava naqueles tempos - os hipócritas menus vegetarianos da McDonalds estavam a 87 anos de distância - e o menor pastor decidiu guardar uns exemplares para partilhar com as suas irmãs e companheiras de pastoreio, mais tarde nesse dia. Quando comeram os cogumelos ao lanche as coisas começaram a mudar de figura e a assumir contornos surrealistas: as cabras desataram a ficar às cores, flutuando 3,5 cm acima do pasto, cantando "menina estás à janela"; o cão desatou a falar ucraniano recitando as obras completas de Dostoyevski; e uma senhora de branco parecida com a Bárbara Guimarães apareceu em cima de uma árvore, pendurada por um gajo de asas brancas, a balbuciar umas coisas querend0 dar um ar inteligente. O resto da história é do conhecimento público: um ditador inteligente; um povo a querer acreditar em qualquer coisa; e o Santana Lopes mais a Cinha Jardim a liderar uma turba de bandalhos do jet seis, de bordão numa mão e de BMW na outra a fazer peregrinações mediáticas a Fátima. Dos cogumelos nunca mais ninguém ouviu falar. Pudera!

terça-feira, janeiro 11, 2005

A Razão do Fado

fado

Embora a maioria dos portugueses nao lhe liguem peva, Portugal é conhecido no estrangeiro por ser o país do Fado (e por outras coisas pouco dignificantes que não interessam nada para esta Razão). Se pensarmos que a música é uma das mais espontâneas e genuínas formas de expressão de um povo, percebemos a razão porque os portugueses são uns deprimidos crónicos, resignados a um destino a que não podem escapar, o que os torna ainda mais desgraçados. A palavra Fado faz aliás parte do nosso vocabulário diário, ditando inexoravelmente todo o nosso futuro. É como se já soubéssemos o fim de um filme série b antes do primeiro intervalo, e mesmo assim fizéssemos questão de levar com ele.

Mas porque diabo um país inventa uma forma de expressão que consiste na auto-flagelação emocional, glorificando a perda, a saudade (outro conceito nacional), o desgosto e a desgraceira miserável e persistente, perguntarão vocês?

A culpa é das companhias farmacêuticas, digo-vos eu! Algures na nossa história fomos vítimas de um complot maquiavélico das companhias farmacêuticas que se juntaram para criar um mercado-piloto para o lançamento de medicamentos anti-depressivos e ansiolíticos. E assim inventaram o Fado. A coisa resultou, ou não sejam os portugueses o povo que per capita mais consome anti-depressivos neste pequeno, mas agitadinho, planeta.

segunda-feira, janeiro 10, 2005

Razões Humanistas

amazonas

Este post é uma homenagem pessoal ao actual ministro da educação brasileiro, Cristovam Buarque, que explicou aos americanos num debate numa universidade dos Estados Unidos, o que pensava da internacionalização da Amazónia: uma ideia que surge com alguma insistência do lado americano e que chateia, naturalmente, os brasileiros.

O texto que segue é a resposta de Buarque a um estudante americano que lhe fez a pergunta esperando a resposta de um humanista e não de um brasileiro:

De fato, como brasileiro eu simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazónia. Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse património, ele é nosso. Como humanista, sentindo o risco da degradação ambiental que sofre a Amazónia, posso imaginar a sua internacionalização, como também de tudo o mais que tem importância para a humanidade.

Se a Amazónia, sob uma ética humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro... O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazónia para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extracção de petróleo e subir ou não o seu preço.

Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado. Se a Amazónia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono, ou de um país. Queimar a Amazónia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais. Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação.

Antes mesmo da Amazónia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo. O Louvre não deve pertencer apenas à França. Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo génio humano. Não se pode deixar esse património cultural, como o património natural Amazónico, seja manipulado e destruído pelo gosto de um proprietário ou de um país.

Não faz muito tempo, um milionário japonês, decidiu enterrar com ele, um quadro de um grande mestre. Antes disso, aquele quadro deveria ter sido internacionalizado.

Durante este encontro, as Nações Unidas estão realizando o Fórum do Milénio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos EUA. Por isso, eu acho que Nova Iorque, como sede das Nações Unidas, deve ser internacionalizada. Pelo menos Manhatan deveria pertencer a toda a humanidade. Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cada cidade, com sua beleza específica, sua história do mundo, deveria pertencer ao mundo inteiro.

Se os EUA querem internacionalizar a Amazónia, pelo risco de deixá-la nas mãos de brasileiros, internacionalizemos também todos os arsenais nucleares dos EUA. Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maior do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil.

Nos seus debates, os actuais candidatos à presidência dos EUA têm defendido a ideia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida. Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do Mundo tenha possibilidade de COMER e de ir à escola. Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas elas, não importando o país onde nasceram, como património que merece cuidados do mundo inteiro. Ainda mais do que merece a Amazónia. Quando os dirigentes tratarem as crianças pobres do mundo como um património da Humanidade, eles não deixarão que elas trabalhem quando deveriam estudar, que morram quando deveriam viver.

Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo. Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazónia seja nossa. Só nossa! "

Excelentes razões! Só tenho pena que os nossos políticos não tenham um décimo da coragem política demonstrada por este indivíduo – estou um bocadinho farto do papel de porteiro que normalmente desempenham no estrangeiro.


A Razão de Boris

criticos

Críticos, sois umas vacas! Querem falar de vocês? Façam confissões públicas e entrem para o Exército de Salvação. Mas deixem o povo em paz com as vossas ideias trancendentes e tentem servir para alguma coisa. Um pouco de crítica objectiva, se fazem favor. Já é tempo. Vocês estão em perigo.

sexta-feira, janeiro 07, 2005

A Razão da Condução

conducao

Portugal é o único país no mundo onde o principal objectivo de conduzir um automóvel não consiste no simples deslocar de A para B. A função do automóvel em território nacional extravasa os simples e originais desígnios do chegar mais rápido a qualquer sítio (se bem que os portugueses também sejam exímios nisto, a julgar pela quantidade absurda de acidentes por excesso de velocidade, que em português significa falta de lentidão). Para os portugueses a condução é, acima de tudo, uma terapia para aliviar tensões, debelar ansiedades, resolver depressões, insultando furiosamente outros portugueses, com a vantagem óbvia de ao mesmo tempo conseguirem chegar mais rápido ao seu destino. O tuga mais calmo e pacato do mundo tranforma-se num javardolas alucinado dentro do seu automóvel, correndo a palavrão e buzinadela todos os seres vivos que se atravessem no seu caminho. No caminho matinal para o trabalho divirto-me normalmente a olhar para dentro dos automóveis que invariavelmente contêm no seu interior mamíferos fora de si, numa fronteira esquisita entre o assassínio de massas e a histeria compulsiva. A situação é tão peculiarmente nacional que alguns fabricantes de automóveis estão neste momento a testar modelos específicos para o mercado português: automóveis equipados com megafones multidireccionais que o condutor poderá apontar directamente para a sua vítima, berrando os impropérios habituais, em estereofonia e com um nível decibélico capaz de acordar um cachalote estremunhado. Haja razão, senhoras e senhores!

quinta-feira, janeiro 06, 2005

Razão Comum

razaocomum
Os políticos têm. As autoridades têm. As monopolistas empresas do estado têm. O funcionalismo público tem. Os patrões têm. Os empregados também. As mulheres têm (oh se têm!). Os filhos têm. Os pais têm. Os homens têm. Os universitários têm. Os professores têm. Os colegas de trabalho têm. O governo tem. O Presidente da República também tem. A oposição idem. Os jornalistas têm. Os sindicalistas têm. Muitos bloggers têm (se não todos). Os engenheiros têm, e não pensem que os doutores lhes ficam atrás. Os informáticos têm. Os dirigentes dos clubes de futebol têm muita. Os jogadores de futebol sempre tiveram. Os gajos do Júlio de Matos continuam a ter. As celebridades têm. Os anónimos têm. Os militares têm. Os civis também. Os animais têm. Os vegetais não sabem. Os empregados de mesa têm. Os profissionais liberais têm. Os enfermeiros têm. Os médicos têm mais do que deviam ter. Os advogados são exímios em ter. Os publicitários têm.
Se toda a gente tem, qual é o problema de hoje eu também ter Falta de Razão?

quarta-feira, janeiro 05, 2005

Razões Artísticas

art

Que rica a vida dos artistas consagrados! Imaginem por exemplo a vida de um pintor consagrado que vende que nem um estúpido: basta-lhe fazer uns riscos aleatórios numa tela e tem imediatamente uma turba de pacóvios, ditos críticos de arte, a tecer inúmeros elogios e críticas ininteligíveis a algo que consideram “um trabalho visionário e despojado que inaugura novos parâmetros no panorama cultural nacional”. Aposto que os gajos se divertem à brava a ler as barbaridades que são escritas em torno de uma salpicadela acidental. E nem me atrevo a imaginar o gozo monumental que têm quando atribuem um preço monstruoso a uma peça igualmente monstruosa que vai inevitavelmente ser comprada por um parvalhão qualquer que acha que está a adquirir uma obra de arte. Este é um privilégio exclusivo desses rapazes consagrados que dizem fazer arte...
Agora imaginemos que roubávamos por instantes esta “aura de graça” a um destes palermas artísticos e o transformávamos num trolha da Picheleira. Um trolha consagrado! Estariam dispostos a pagar estupidamente mais por um alinhamento arbitrário de tijolos na parede da vossa casa? Ah pois é!

terça-feira, janeiro 04, 2005

Razões Estelares

Ashtona

Numa das minhas incursões selvagens pela internet descobri uma seita com ramificações em vários países, entre eles Portugal e Brasil. Esta seita dá-se pelo nome de Comando Estelar, ou Comando Ashtar, e acredita piamente que nós todos somos fruto dos Atlantes, que por sua vez eram extraterrestres em sistema de time-sharing aqui neste planeta. Este grupo de palhaços alucinados acredita que existem por aqui uma série de portais para outros planetas, onde podemos calmamente viajar através deles tipo "vou ali ao terceiro andar e já volto", e alertam para a eminência de um êxodo terrestre para o planeta de origem. Só não sabem a que horas e em que sítio é que a nave estelar vai passar para os recolher.
Já aqui falei de religião e do embrutecimento que esta normalmente causa nos mamíferos aderentes, mas isto para mim é mais grave, porque me parece um cocktail perigoso de crença com stand up comedy. Os gajos reúnem-se regularmente por aí, em Portugal inclusivé, para ouvirem palestras onde lhes transmitem as palavras do Comandante Ashtar, um gajo que nunca ninguém viu, que tem um discurso saído de uma série de ficção ciêntifica de série B, e que segundo dizem não usa roupa interior.
Como existem coisas que considero um insulto à Razão decidi, nas últimas duas semanas, deixar-lhes um comentário diário (que eles também eliminam diariamente) no seu blog brasileiro indicando horários e locais de passagem da carreira das naves estelares, bem como procedimentos a ter em conta quando se viaja para outras galáxias. Sugiro que vocês façam o mesmo, e indiquem a estes cretinóides a maneira mais rápida de bazarem do planeta Terra. Divirtam-se.

segunda-feira, janeiro 03, 2005

A Razão dos Indecisos

question
Sempre que vejo os resultados de uma sondagem qualquer presto especial atenção aquele último grupo de respostas do “Não Sei/Não Respondo”. E de um modo geral este grupo é representativo, o que demonstra que anda por aí um monte de mamíferos que sabem pouco de qualquer coisa ou que se recusam a responder a uma coisa qualquer. Os primeiros ainda consigo desculpar: a ignorância é da responsabilidade de cada um, e se se é ignorante é porque não se fez um esforço para saber, ou nunca houve essa oportunidade. Ok. Estão desculpados.
Agora os outros javardolas que se predispõem a preencher um questionário, cujo único objectivo é saber a opinião dos inquiridos, e depois se recusam a responder, é que mereciam levar com uma tribo somali pelos glúteos acima. Se não querem responder não sejam inquiridos, suas bestas! É a mesma coisa que aceitar um convite para jantar e depois se recusar a tocar na comida; ou comprar um bilhete de avião para depois se colocar na fila do check in a berrar “Eu não embarco! Eu recuso-me a embarcar!”.
Mas pior que estes cretinóides aparvalhados que enchem as estatísticas nacionais, existe um grupo que me torra completamente a paciência: os indecisos. O indeciso é aquele gajo que nunca sabe exactamente aquilo que quer nem quando quer, nem como quer, nem porque quer. Enfim… um verdadeiro mongo titubeante que, à boa maneira portuguesa, só decide à última da hora.
Portugal é um país de indecisões, e por isso reúne as condições ideais para a proliferação dos indecisos. Agora que estamos à porta (mais uma vez) de eleições, vão começar a aparecer estes bandalhos que só vão decidir se forem coagidos a isso. Lembrei-me por isso de criar um “batalhão decisivo”: rapazes bem constituídos e com um QI ligeiramente superior à nossa polícia de choque, que visitarão os lares dos indecisos promovendo a decisão, usando para isso uns lindos, longos e rijos bastões de baseball que aplicarão sistemática e cirurgicamente nas gengivas de quem tiver dificuldade em tomar uma decisão.
Se quiser ter a certeza se é um indeciso preencha por favor o teste deste post. Se a sua resposta for “d” contacte o número 0810 300 500 e peça para que lhe enviem o batalhão lá a casa. Também fazem domiciliações no escritório. Aos Domingos estão de folga.

sábado, janeiro 01, 2005

A Razão do Eterno Retorno

Dias
O início de cada ano é profícuo em determinações. Nesta altura prometemos a nós próprios uma chusma de resoluções que queremos accionar o mais depressa possível: deixar de fumar; passar a ir ao ginásio pelo menos duas vezes por semana; comer coisas mais saudáveis; perder peso; engatar a ruiva gostosa que aparece todas as manhãs na paragem de autocarro; passar mais tempo com os filhos; pedir o divórcio; pedi-la em casamento; etc. etc. etc.
A maioria destas resoluções, quando não todas, vão caír em saco roto - e nós sabemos disso. Mas enquanto o Janeiro não chega ao fim, é olhar para nós com um ar decidido, como um rolamento a deslizar pela ladeira abaixo. Depois somos envolvidos pela realidade precária da nossa força de vontade, e pelas contingências do nosso dia a dia e vamos, paulatinamente, arranjando boas razões para adiarmos - temporariamente, claro - as nossas bem intencionadas resoluções. A todos aqueles que já fervorosamente decidiram pôr em prática uma série de decisões: boa sorte, faltam 30 dias para o fim do mês, e 364 para o fim do ano. Quem estiver a pensar na ruiva, esqueça. Essa resolução é minha e não tenciono partilhá-la com ninguém.